Nesse contexto, ao anunciarem a refilmagem das aventuras atrapalhadas do inspetor Clouseau, uma das questões mais instigantes da nova versão cinematográfica de A Pantera Cor-de-Rosa é a inevitável comparação entre os atores Steve Martin e Peter Sellers. Afinal, toda a eloqüência das produções se baseia nas personagens que as conduzem.
O que se pode dizer é, sem dúvida, que o filme original conseguiu transcender o gênero de comédia burlesca graças à genialidade humorística de Sellers, cuja bizarra dignidade se mantinha intacta - mesmo nas mais estapafúrdias situações. Steve Martin, apesar de todo seu talento, não consegue a mesma façanha, caindo no ridículo ao lado de seu personagem e, por conseqüência, do próprio filme.
A trama começa durante a final de um hipotético campeonato mundial de futebol disputado entre França e China. Ao término do jogo, em que os franceses se consagram campeões, cai morto o técnico do time em meio ao tumulto que se instala nas comemorações entre os jogadores. E, mais do que isso, frente a milhares de pessoas, desaparece seu ostentoso anel chamado “Pantera Rosa”.
Para tentar desvendar o caso e receber a prestigiada medalha de honra francesa, o chefe dos inspetores da polícia, Dreyfus (Kevin Kline), decide colocar a cargo das investigações o policial mais inapto para o trabalho (Clouseau). Explica-se: enquanto vira motivo de chacota por toda a França, Dreyfus roubaria a cena e se tornaria um herói em seu país. Plano que, claro, não sai como o planejado.
Na melhor das hipóteses, esta nova versão da A Pantera Cor de Rosa é uma comédia rasteira, rústica, que pode divertir um publico menos exigente e não saudosista aos filmes estrelados por Sellers. Os erros freqüentes no condescendente roteiro co-escrito por Martin deixam claro que não há primor nesta produção, apesar de contar com bons atores, como Emily Mortimer e Jean Reno. Notória também é a infeliz mudança na trilha sonora que privilegia Beyoncé frente a Henry Mancini. Erros, infelizmente, fatais.