Filmes sobre celebrações em família (casamentos, aniversários, Natais, Dias de Ação de Graça etc) servem como uma boa desculpa para reunir um grupo de indivíduos – alguns ligados por laços sangüíneos – e mostrar suas semelhanças e diferenças. Sempre tem uma certa tensão no ar, seja ela interna da família, ou de um ambiente hostil em que eles precisam estar, ou até mesmo um inimigo externo. A comédia dramática israelense (co-produzida pela França e Alemanha) A Noiva Síria não é diferente. E reúne todos esses elementos.
Mona (Clara Khoury) vai se casar, porém isso não é motivo de alegria para ela. Não bastasse o fato de nunca ter visto seu noivo em carne e osso, ela irá cruzar a fronteira entre Israel e Síria. Assim, nunca mais poderá voltar a Majdal Shams, a aldeia drusa, nas colinas de Golã, onde mora a sua família. Assim, nunca mais verá os pais, os irmãos, os amigos.
A ação do filme começa poucas horas antes da cerimônia, que acontecerá num checkpoint nas fronteiras de Israel e da Síria. Dos dois lados estão familiares das duas partes, e entre eles soldados, burocratas e membros da cruz vermelha. As horas que antecedem a partida de Mona são uma mistura de alegria, satisfação, tristeza e medo. A reunião da família traz à tona discussões do passado. O pai (Makram Khoury) não fala com um de seus filhos há anos, e este se casou com uma russa e traz a mulher e o filho para a casa dos pais.
A irmã mais velha de Mona, Amal, interpretada pela grande Hiam Abbas (Free Zone, Munique), é a que está mais empolgada com o casamento. Ela vê em sua irmã a pessoa que ela mesma poderia ter sido. Apesar de personalidade forte, a mulher acabou ficando sob a sombra do marido, que parece nunca a ter tratado bem. Agora, ela tenta alçar vôos próprios voltando a estudar e tentando uma vaga na universidade.
Aos poucos, o diretor e a co-roteirista Suha Arraf vão delineando a verdadeira trama central de A Noiva Síria. Este é, na verdade, um filme sobre Amal, a irmã da noiva. É ela que domina o centro dramático e emocional da história, as coisas giram em torno dela. É essa personagem quem comanda os outros, quem dita as ações. E mesmo quando Mona parece não ter certeza se quer casar, ela vai mostrar à irmã porque é melhor se casar e ir para o outro lado da fronteira.
A certa altura, o fotógrafo e cinegrafista contratado para cobrir a cerimônia diz que ‘casamento é como uma melancia, nunca se sabe o que tem dentro’. Embora a frase não faça muito sentido, ela está completamente encaixada no contexto do filme. O casamento para a Mona é um salto no escuro, onde não terá nem a proteção dos pais nem a chance de voltar para casa.
A Noiva Síria é um filme que se passa quase que todo numa terra de ninguém – física e emocional. Ao mostrar o drama que milhares de pessoas enfrentam nas fronteiras do Oriente Médio, Riklis mostra problemas locais. Quando mostra a incomunicabilidade entre membros de uma mesma família, ele aborda questões universais que independem da localização geográfica. A questão política e a emocional ganham peso e importância nessa melancólica comédia.