A história de Zuzu (1921-1976) é tão exemplar que parece ficção. Por isso, ela se basta, não haveria necessidade de tanto reforço numa trilha sonora em geral invasiva demais – em que pese a beleza da canção Angélica, feita especialmente por Chico Buarque de Holanda para a personagem real (de onde vêm os versos: “Quem é esta mulher que canta sempre esse estribilho/ só queria embalar meu filho/ que mora na escuridão do mar”).
Muito menos se precisa de tanto didatismo. Tornar o filme acessível em princípio é uma atitude positiva, ainda mais que se reapresenta uma história ocorrida há 30 anos atrás. Mas o padrão Globo Filmes de qualidade parece exigir que esse didatismo chegue às raias do absurdo, não só desacreditando da inteligência e da memória do público, como estimulando ao máximo seu reflexo para o comodismo. Atitude oposta à da boa arte, que instiga sempre a própria superação de limites.
Fica claro desde o primeiro fotograma que Zuzu Angel aspira a ser a Olga da filmografia de Sérgio Rezende, um cineasta que se notabiliza pelo interesse por temas históricos – caso de Lamarca, Mauá – O Imperador e o Rei, Guerra de Canudos, O Homem da Capa Preta. E pode até conseguir. O filme conta com a fúria santa da personagem e escuda-se numa série de episódios verídicos – sua busca incansável do filho junto aos porões da ditadura, o desfile com modelos em tons de luto em Nova York, a carta-denúncia para Chico Buarque de Holanda, a morte num acidente preparado, no túnel carioca que hoje leva seu nome. Mas a história não extrai dessa soma de detalhes verdadeiros a contundência que se poderia esperar. O principal culpado por isso é essa opressiva estética de novela, que impõe a regra de que tudo deve ser muito explicadinho e encenado, sem direito a pausas nem silêncios. Um estilo que nega consistência à trama e, contraditoriamente, compromete até o envolvimento emocional que procura despertar.
Zuzu Angel não é um mau filme. É visivelmente uma produção bem-cuidada, atenta para a reconstituição de época (os anos 70) e contando com um elenco de qualidade – exceção feita a Luana Piovani, cuja atuação superficial mostra que está mais preocupada com o próprio status de celebridade e menos com a compreensão da essência de sua personagem, a esplêndida iconoclasta Elke Maravilha, que foi uma das modelos e melhores amigas da estilista morta.
Um refinamento maior do roteiro, fugindo a algumas facilitações, seria desejável para que a história atingisse o máximo de seu potencial. Uma prova disso está em sua melhor cena – aquela em que um sapateiro (Nelson Dantas, em seu último filme) expressa toda a sua dor de maneira muda. Um silêncio eloqüente, que falta ao resto do filme.