Menos arrogante e bem mais talentoso é Paul Giamatti, aqui no papel de um zelador melancólico que encontra uma espécie de ninfa na piscina do complexo de apartamentos onde mora e trabalha. Com seu olhar triste e seu talento para nuances da comédia ao drama, o ator é capaz de convencer qualquer público. Pena o roteiro não estar à altura. O ser mágico é interpretado por Bryce Dallas Howard, que também é capaz de bem mais do que ficar desidratada e pálida o tempo todo – como está aqui.
A criatura, na verdade, é chamada de narf, e tem as horas contadas para achar um meio de voltar para o seu mundo. A razão disso nunca fica clara, nem mesmo com a animação desnecessária que abre o filme, contando que humanos e seres da água conviviam em harmonia até uma guerra, ou qualquer coisa assim, saída da cabeça criativa, mas mal resolvida, de Shyamalan.
Como ele chama o filme de "fábula", o diretor e roteirista parece se legitimar a não buscar muito nexo. Ninguém, aliás, cobra veracidade de uma fantasia. Mas se Shyamalan parece querer misturar o mundano e o mágico/sobrenatural em seus filmes, aqui esse casamento nunca acontece. Ele tenta uma história à moda de E.T – O Extraterrestre, mas a personagem ninfa nunca é capaz de despertar mais do que uma mera indiferença, ao contrário do pequeno alienígena de Spielberg. A Dama na Água soa ainda mais desnecessário se pensado que o cinema já se aventurou pela fantasia com resultados muito mais sofisticados, ao adaptar O Senhor dos Anéis, de Tolkien, e As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis. Essas são obras capazes de criar e se apoiar numa mitologia própria, fazendo um mundo de fantasia totalmente palpável e crível.
Com suas filosofadas neo-new age, Shyamalan prega algo tão hipócrita como a passividade e o conformismo. A certa altura um personagem diz que as pessoas devem fazer o papel que lhes cabe, não aquele que desejam. É o mesmo que dizer: não corra atrás de seu sonhos porque, se não for seu destino, de nada vai adiantar. Ou ainda, não tente mudar o mundo, é impossível. Cada fala de um personagem parece ser carregada com Gotas de Sabedoria – destinadas aos menos iluminados do que ele, ou seja, o resto da humanidade.
Já o crítico de cinema do filme (Bob Balaban) é uma espécie de vingança que saiu pela culatra. Ele é o personagem mais divertido, digno e, de longe, o mais inteligente do longa. Certamente um jornalista honesto que faria uma crítica sincera sobre esse filme, dizendo que é pura perda de tempo e energia. O mesmo é válido para o livro que o personagem de Shyamalan estava escrevendo.