Não admira que um resultado tão enxuto e próximo do que se pode chamar de perfeição leve um cineasta a querer homenagear a obra original. É o que faz este filme de Barbet Schroeder, diretor iraniano radicado na França, famoso por O Reverso da Fortuna (90). Mas, sem a mesma ambição de Hitch e daqueles que o inspiraram, além de sofrer os acréscimos e atualizações que Hollywood considera indispensáveis para seduzir as grandes platéias de hoje, o que resta é pouco mais do que um arremedo. Uma pena, porque o tema permanece tão atual quanto inquietante.
O roteiro - de Tony Gayton - parte do plano de dois adolescentes de classe média alta, Richard (Ryan Gosling) e Justin (Michael Pitt), de cometer um assassinato perfeito. Por puro tédio, com frieza e cálculo atrozes, escolhem uma vítima desconhecida a esmo e têm o cuidado de espalhar pistas que levem a um falso culpado. Quem se encarrega da investigação é uma policial experiente, Cassie Mayweather (Sandra Bullock), que usará toda a sua intuição e um bocado de sua experiência traumática de vida para desmontar o quebra-cabeças, com a ajuda de seu assistente (Ben Chaplin).
Seria muito mais instigante se não houvesse uma determinação tão insistente de explicar o jogo de gato e rato entre a policial e os garotos o tempo todo. Ou seja, desaparece toda a sutileza do filme original de Hitchcock em favor da mão pesada dos clichês, que sempre partem do princípio de que a platéia não seja esperta ou que não possa correr até a locadora mais próxima e alugar Festim Diabólico o mais depressa possível.
Cineweb-19/7/2002