No Festival do Rio 2006, o filme venceu os prêmios de melhor ator (Selton Mello), prêmio especial do júri e da FIPRESCI (federação internacional de críticos de cinema). Na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, também no final de 2006, recebeu o prêmio de melhor filme, tanto para o júri oficial como para a crítica, e menção honrosa para todo o elenco.
Dirigido por Heitor Dhalia (Nina), e roteirizado pelo diretor e pelo escritor Marçal Aquino (O Invasor), o filme baseia-se no livro homônimo do quadrinista Lourenço Mutarelli – que faz uma ponta. Originalmente orçado em cerca de R$ 2,5 milhões, o longa acabou sendo produzido com R$ 315 mil, com dinheiro arrecadado entre sócios privados e pelos produtores executivos.
Ao contrário do livro, no filme o protagonista chama-se Lourenço – e é interpretado por Selton Mello. Este, aliás, é o único que tem um nome em todo o filme. Os outros são tipos que entram e saem da ação.
Lourenço tem uma loja e compra quinquilharias – mas nunca o vemos vender nada. Pelo seu estabelecimento, transitam pessoas estranhas, tentando vender algo: uma embalagem de cigarro com autógrafo de Steve McQueen, uma caneta, uma arma, antiguidades.
Todos esses indivíduos são uma desculpa para Lourenço satisfazer seu ego, exercendo seu poder momentâneo sobre elas. Ele se contenta com seu jogo sádico até o dia em que duas coisas mudam o rumo de sua vida. Ele se apaixona por uma parte específica do corpo de uma garçonete (Paulo Braun). E quase ao mesmo tempo, começa a sentir um odor ruim vindo do ralo do banheiro de sua loja.
Lourenço é um personagem desagradável, interpretado com muita competência por Selton Mello, que nunca pede que se tenha maior simpatia por esse sujeito um tanto quanto bizarro. As pessoas que entram e saem de cena são ora dignos de repugnância, ora de piedade – mas nunca rompem a barreira e se tornam realmente personagens.
O Cheiro do Ralo é um filme construído em cima de estilizações temáticas e visuais. Desde sua primeira imagem, o objeto do desejo de Lourenço, até o seu final sombrio, o longa parece existir num outro universo – um que tem uma vaga semelhança com o mundo real, mas, ainda assim, não é o mesmo.