Na comédia Meu Melhor Amigo, o estilo Leconte parece ter tomado um rumo diferente. Não que dispense personagens muito particulares. Os protagonistas são um antiquário solitário, François Coste (Daniel Auteuil) e um motorista de táxi tagarela, Bruno (Dany Boon). Não têm nada a ver um com o outro, exceto serem complementares.
O acaso aproxima estes dois. Tudo por causa de uma aposta. Furiosa porque o sócio François comprou por uma fortuna (200.000 euros) um raro vaso grego, sua sócia Catherine (Julie Gayet) desafia-o a apresentar, em 10 dias, seu melhor amigo. Tudo porque ela acredita piamente que tal pessoa não existe. O prêmio é, justamente, o tal vaso grego que levou o negócio de antigüidades à bancarrota, pendurado no banco.
A partir daí, a luta de François será encontrar quem possa chamar de amigo. Procura vã. Todos os nomes de sua agenda são de meros contatos de negócios – e muitos ressabiados com ele por seus métodos um tanto agressivos de conquistar o que procura. Falha também a volta ao passado. Aquele que ele julgava seu melhor amigo de infância declara-lhe sem rodeios que sempre o detestou. Nem na família ele tem cartaz. Divorciado, vive com a única filha, Louise (Julie Durand), mas nem ela tem grande opinião a seu respeito.
Observando a impressionante facilidade do taxista, que conheceu por acaso, de conversar com qualquer um que entre no seu carro, François contrata-o como personal trainer de relacionamentos. Ou seja, François tenta puxar conversa e ser simpático com pessoas na rua, atentamente observado por Bruno, que analisa seu desempenho.
O filme evolui para expor a frieza emocional abissal do antiquário, em contraste com a generosidade do taxista. Mas nada disso acontece daquela forma simplista que se costuma esperar em produções hollywoodianas. Meu Melhor Amigo é uma comédia mais densa do que o gênero habitualmente se permite. E vai além porque conta com dois atores excepcionais. Além do tarimbado Auteuil, Dany Boon é uma revelação.