18/04/2025
Drama

Conversas com meu Jardineiro

Pintor em crise na vida pessoal e profissional volta à antiga casa dos pais, no campo. Resolve reformar tudo e reencontra um velho amigo de infância, agora jardineiro. A amizade permite aos dois aumentar seus horizontes.

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A troca entre duas experiências humanas muito distintas é a grande graça deste filme, conduzido pelo veterano diretor Jean Becker (do premiado Verão Assassino, 83) e dois dos melhores atores do atual cinema francês, Daniel Auteuil e Jean-Pierre Darroussin.

Os dois interpretam uma dupla de ex-colegas de primário que foram separados depois de uma grande aventura em comum, envolvendo bombinhas no bolo de aniversário de um velho professor. Para o garoto de classe média, o incidente levou a uma simples troca de escola. Para o menino mais pobre, significou dar adeus ao estudo, mergulhando no mundo do trabalho.

As diferenças a partir daí aprofundaram-se . O mais rico tornou-se pintor de algum conceito em Paris (Auteuil). O mais humilde virou ferroviário que, depois de aposentado, completa a renda como jardineiro (Darroussin). Eles nunca mais se veriam, talvez, se não tivessem chegado àquela idade em que, independentemente das condições financeiras, a idade autoriza a um balanço mais profundo das próprias experiências.

É justamente esse balanço o que provoca a mudança do pintor de volta à velha propriedade rural de seus pais, depois da morte deles, num momento em que seu casamento está perto do fim e seu estranhamento com a filha é bem grande. Em seu próprio trabalho, a satisfação diminuiu. Ele busca nova inspiração, ouvindo jazz, e ocupando-se com a reforma da velha casa. Até o dia em que chega o jardineiro.

Depois do reconhecimento do velho comparsa da travessura da infância, começa uma redescoberta mútua, na qual o humor desempenha papel essencial, especialmente por iniciativa do jardineiro. Pessoa simples que nunca viajou para muito longe de sua bucólica cidadezinha, ele é capaz, no entanto, de extrair a mais densa alegria dos pequenos prazeres que cabem em seu orçamento, como as pequenas férias anuais na praia de Nice ao lado da mulher (Hiam Abbas, de Free Zone).

Bem ao contrário, o pintor é um poço de enfado com seus confortos mais sofisticados. O otimismo do outro, porém, acaba por contagiá-lo. Por iniciativa do jardineiro, eles começam a tratar-se apenas por um apelido que tem a ver com suas profissões – “Dupinceau” (do pincel) para o pintor, “Dujardin”, do jardim, para o jardineiro. E o relacionamento se abre cada vez mais para que um possa olhar o mundo através dos olhos do outro.

Desta maneira, o pintor percebe as cores, formas e desenvolvimento dos legumes de sua nova horta, que passam a freqüentar suas telas. O jardineiro é apresentado a idéias novas, como a de que os desenhos que habitam os quadros não os copiam necessariamente à sua imagem e semelhança. Neste processo, são particularmente felizes duas seqüências, a de uma pescaria e a de uma visita ao Louvre, em Paris.

Alternando momentos alegres e tristes, o filme de Becker segue mais o fluxo instável da própria vida do que se preocupa em deixar alguma mensagem edificante. É um trabalho emotivo, sincero, divertido, amoroso com seus personagens e sua amizade, e que nunca resvala na banalidade ou na pieguice. Uma jóia para assistir, um bálsamo para corações e retinas cansados.

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