08/09/2024
Drama

Meu Nome Não É Johnny

Jovem de classe média, João Estrella (Selton Mello) torna-se um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro, nos anos 90. Leva uma vida de excessos até o dia em que é preso e tem de mudar tudo.

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Contando com o apelo de uma história real e o charme satânico de um anti-herói, o filme de Mauro Lima incorpora uma proposta arriscada. Não tiveram vida fácil seus produtores para encontrar financiamento para esta cinebiografia de João Guilherme Estrella, um jovem filho da classe média que se torna o maior traficante de cocaína do Rio de Janeiro em meados dos anos 90.

Encontrando em Selton Mello o intérprete ideal, o personagem ganha a verdade de uma figura polêmica a quem nunca falta humanidade. Por isso, pode-se, em tantos momentos do filme, simpatizar com ele sem culpa e sem medo de sentir-se defensor do tráfico ou do consumo de drogas.

Lidando com tema explosivo, o filme de Lima, roteirizado pelo próprio diretor e a produtora Mariza Leão, atravessa com sucesso a delicada fronteira que divide o discurso moralista e a apologia às drogas. A história, aliás, não faz uma coisa nem outra, mantendo distanciamento em proveito de retratar a fundo a experiência humana extrema e arriscada de Estrella – que, contra toda lógica, viveu para contá-la.

Filho de um casal classe média para lá de normal, pai bancário (Giulio Lopes), mãe dona de casa (Julia Lemmertz), o garoto nascido e criado no Jardim Botânico começa a consumir drogas com os amigos. Cheio de iniciativa, logo descobre um jeito de ganhar dinheiro com isso, ao mesmo tempo que continua consumidor. Nessa vida de alto risco, ele ganha muito, gasta tudo, vai para a Europa com a namorada Sofia (Cleo Pires) e volta para recomeçar, sempre. Não guarda um tostão, não se preserva. João Estrella queima sua própria vida como um fósforo de altíssima combustão.

Eventualmente, a polícia entra no circuito, mas apenas para tentar levar uma parte dos lucros. A cena em que dois policiais passeiam com João pela noite, calcada de humor negro, é bem representativa dessa grande discussão que o cinema tem levado para a sociedade, aqui numa chave mais cínica e bem menos violenta do que em Tropa de Elite.

Chega o dia em que a casa cai e João vai parar na cadeia, apenas para descobrir um mundo em que sua lábia não serve. Lá dentro, ele vai ser tratado de “playboy” e fazer um rápido aprendizado de adaptação para sobreviver.

Quando seu caso cai nas mãos de uma das juízas mais rígidas do judiciário (Cássia Kiss), ironicamente o traficante bon vivant encontra sua interlocutora mais sensata. Por conta de sua decisão, que lhe deu uma pena leve, João teve condições de purgar seus erros e também renascer. Hoje, ele é produtor musical no Rio.

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