Há casos realmente impressionantes, como o do casal de jornalistas levado à ruína depois do câncer que acometeu a mulher, o que os levou a morar de favor no porão de um de seus filhos. Ou o de outra mulher, cujo marido morreu aos poucos diante de seus olhos, pela negativa de seu seguro de saúde de cobrir um transplante de medula (que foi classificado como “tratamento experimental”). E também o de alguns voluntários que participaram do socorro às vítimas do 11 de Setembro que hoje não encontram atendimento para seqüelas respiratórias e outras, devido ao fato de não serem nem bombeiros, nem policiais - sendo, na prática, “punidos” por terem se prontificado a trabalhar sem serem obrigados profissionalmente a isto.
À procura de referências de que um outro mundo é possível, Moore percorre países capitalistas onde o sistema de saúde é socializado, como a Inglaterra, o Canadá e a França, encontrando provas cabais de que é possível manter um atendimento de massa e de qualidade.
O ponto alto é a viagem a Cuba, que rendeu problemas na justiça dos EUA para Moore. O cineasta lota um navio de pacientes desprotegidos pelo sistema privado de saúde norte-americano e dirige-se primeiramente à base de Guantánamo, enclave dentro de Cuba onde as autoridades dos EUA mantêm os prisioneiros suspeitos de terrorismo e de pertencerem à Al-Qaeda. Mesmo estes prisioneiros, várias vezes apontados como vítimas de violações de direitos humanos por organismos internacionais, ironicamente recebem assistência médica gratuita do governo norte-americano, ao contrário dos cidadãos de seu próprio país.
Evidentemente, o navio de Moore não recebe autorização para descer na base militar e dirige-se à Cuba socialista de Fidel Castro – onde a medicina é totalmente gratuita para qualquer pessoa. Lá, os pacientes norte-americanos recebem diagnósticos, tratamentos e medicamentos, a preços ridiculamente inferiores aos praticados nas farmácias dos EUA.
Não raro, o estilo marqueteiro de Moore leva-o a ser considerado uma espécie de Roberto Benigni do documentário. Entretanto, é inegável que ele se tornou um dos mais eficientes contrapontos à grande mídia norte-americana no que diz respeito aos mais diversos assuntos, da política à satanização inclemente dos franceses (hoje freqüentemente identificados como os vilões dos filmes de ação de Hollywood). A pesquisa levantada neste filme confere ao diretor uma indiscutível autoridade.