17/02/2025
Documentário

Inútil

Neste documentário, o cineasta chinês Jia Zhang-ke procura retratar os muitos aspectos do mundo da confecção de roupas e da moda. Para isso, mostra o trabalho de uma estilista consagrada internacionalmente, o de algumas grandes indústrias e, também, o de pequenos alfaiates e costureiras rurais - um trabalho hoje em rápido declínio.

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A indústria da moda, que hoje ocupa páginas tanto dos cadernos econômicos como dos culturais, a bordo de sucessivas Fashion Weeks, no Brasil, ganha um inusitado e crítico painel neste criativo documentário assinado por Jia Zhang-ke. Um dos cineastas mais respeitados da nova geração da China, ele tem a seu crédito filmes como Plataforma (2000) e Em Busca da Vida (Leão de Ouro em Veneza 2006), filmes de ficção sempre profundamente encharcados de uma base documental centrada no choque entre a velha China rural e a nova China neocapitalista.

Premiado na mostra Horizontes, do Festival de Veneza 2007, Inútil ocupa-se das duas pontas do espectro da pujante indústria da confecção em seu país. De um lado, estão designers que conseguiram fama e sucesso mundial, caso da estilista Ma Ke, uma das criadoras da marca Exception e que acaba de lançar uma outra marca, Wuyong, que dá nome ao filme e quer dizer precisamente “inútil”.

Nessa nova marca, Ma Ke localiza sua pesquisa artística de roupas produzidas com tecidos feitos à mão e em cores terrosas. Indo fundo em sua pesquisa, a estilista chega a enterrar suas criações, para que absorvam “a história do solo”.

Nada desta radicalidade nem do glamour do circuito fashion internacional sobrevivem, é certo, dentro dos corredores das ativas fábricas de roupas de Guangdong, onde se assiste a um exército de operários cortando e costurando roupas em série, para atender ao maior mercado do mundo, formado pelos bilhões de chineses.

O cineasta não esquece de retratar também a situação dramática dos pequenos alfaiates e costureiras de regiões rurais, que vêm perdendo seus empregos justamente em função das grandes fábricas – que, pela produção em série, têm condições de oferecer preços fora do alcance destes pequenos produtores. E que assim estão condenados à desaparição.

A câmera atenta de Zhang-ke procura flagrar os contrastes entre esses mundos paralelos, que traduzem, mais uma vez, o choque entre modernidade e tradição, tentando delimitar o que se ganha e perde nessas transformações comandadas pela História.

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