Premiado na mostra Horizontes, do Festival de Veneza 2007, Inútil ocupa-se das duas pontas do espectro da pujante indústria da confecção em seu país. De um lado, estão designers que conseguiram fama e sucesso mundial, caso da estilista Ma Ke, uma das criadoras da marca Exception e que acaba de lançar uma outra marca, Wuyong, que dá nome ao filme e quer dizer precisamente “inútil”.
Nessa nova marca, Ma Ke localiza sua pesquisa artística de roupas produzidas com tecidos feitos à mão e em cores terrosas. Indo fundo em sua pesquisa, a estilista chega a enterrar suas criações, para que absorvam “a história do solo”.
Nada desta radicalidade nem do glamour do circuito fashion internacional sobrevivem, é certo, dentro dos corredores das ativas fábricas de roupas de Guangdong, onde se assiste a um exército de operários cortando e costurando roupas em série, para atender ao maior mercado do mundo, formado pelos bilhões de chineses.
O cineasta não esquece de retratar também a situação dramática dos pequenos alfaiates e costureiras de regiões rurais, que vêm perdendo seus empregos justamente em função das grandes fábricas – que, pela produção em série, têm condições de oferecer preços fora do alcance destes pequenos produtores. E que assim estão condenados à desaparição.
A câmera atenta de Zhang-ke procura flagrar os contrastes entre esses mundos paralelos, que traduzem, mais uma vez, o choque entre modernidade e tradição, tentando delimitar o que se ganha e perde nessas transformações comandadas pela História.