Adaptação do premiado musical da Broadway "Nine" (1982), que por sua vez inspirou-se no filme "8 e ½" , de Federico Fellini – centrando-se na crise de um diretor de cinema, Guido Contini (Day-Lewis) às voltas com a meia-idade, o bloqueio criativo e problemas com as mulheres de sua vida, começando pela esposa (Marion Cotillard), a amante (Penélope Cruz), sua musa (Nicole Kidman) e sua mãe (Sophia Loren).
- Por Alysson Oliveira
- 09/12/2009
- Tempo de leitura 3 minutos
Nine inspira-se num musical da Broadway, do início dos anos de 1980 que, por sua vez, baseia-se no clássico 8 1/2 (1963), de Federico Fellini. Todos têm como questão central um grande cineasta em crise de criatividade e a forma como ele se relaciona com as mulheres à sua volta. Aqui, Daniel Day-Lewis faz as vezes de Marcello Mastroianni, cantando, dançando e ensaiando um sofrível sotaque italiano.
Basicamente um talentoso ator dramático, vencedor de dois Oscar por Sangue Negro (2007) e Meu Pé Esquerdo (90), Day-Lewis tem dificuldades com esta passagem para o musical. Por um lado, o ator não canta e nem dança bem. Por outro, mostra limitações para trazer nuances para o cineasta Guido Contini, um personagem basicamente antipático com sua misoginia e arrogância. Ele acaba de assinar contrato para seu nono filme, um épico chamado Itália, mas está com bloqueio criativo. Além disso, as mulheres ao seu redor, mãe, amante, musa, esposa, sempre o pressionam e ele vai perdendo a razão, entre uma música e outra.
Marion Cottillard é Luisa, ex-estrela de seus filmes, e atual mulher. Penélope Cruz é Carla, a amante. Nicole Kidman, Claudia (referência à Cardinalle, claro), a musa. Judy Dench é Lilli, figurinista e confidente. Kate Hudson, uma jornalista, pouco ética que se envolve com ele. Do passado, dois fantasmas o visitam: a mãe morta, interpretada pela veterana Sophia Loren, e a prostituta, objeto do desejo do menino e seus amigos quando tinham 9 anos, chamada Saraghina e interpretada pela cantora Fergie – a única do elenco que não tem medo de soltar o vozeirão quando chega a sua hora de cantar. E todas as atrizes têm, pelo menos, um número musical, ou seja, são protagonistas em algum momento do filme.
O roteiro, assinado por Michael Tolkin (Impacto Profundo) e o cineasta inglês Anthony Minghella, que morreu em 2008, expande o musical, trazendo novos números e ampliando cenários – todos, de certa forma, tentando remeter aos filmes de Fellini. Mas o diretor Rob Marshall não tem a mesma criatividade e não é capaz de orquestrar a mistura entre memória, desejos e culpa que o grande italiano sabia fazer tão bem.
Além disso, Marshall opta por uma montagem tão picotada que se mostra quase impossível ver as coreografias. As atrizes, por sua vez, são mal aproveitadas em números musicais que não se encaixam com a história.
A personagem de Marion, Luisa, estreou no cinema num filme de Contini. “Ela era a melhor coisa do filme”, comenta o diretor elogiando sua esposa, agora uma dona de casa, mulher fiel e muito traída. Curiosamente, a atriz de Piaf – Hino ao Amor é o melhor de Nine. Talvez porque a sua personagem é a única capaz de alguma nuance, algum contorno dramático. Todos os outros são meros estereótipos: A Amante, A Amiga, A Mãe etc
O que acaba com qualquer possibilidade de diversão é a forma como os números musicais acontecem. Eles nunca se integram à narrativa – como acontecia até com Chicago, também dirigido por Marshall, e vencedor de seis Oscar em 2002. O melodrama de Guido e suas mulheres passa-se em Roma, enquanto a cantoria é encenada num grande palco (montado num estúdio na Inglaterra). Nunca há uma conexão entre o melodrama e a música. Por isso, o filme parece tanto uma colagem de momentos.
Se Nine fosse um sucesso, há uma série de filmes italianos na fila para se transformarem em musicais. Mas não é o caso. Talvez seja a cantoria sem razão de existir, ou mesmo, os personagens pouco atraentes – ao contrário dos filmes de Fellini –mas nada funciona no filme.