08/02/2025
Drama

Aproximação

Depois da morte de seu pai, Ana é obrigada a ir a Israel onde se depara com uma realidade cruel. Soldados israelenses são obrigados a retirar colonos judeus que ocupam terrenos na Faixa de Gaza.

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Em Aproximação, o diretor israelense Amos Gitai (Kippur, Free Zone) lida com a intersecção entre um momento histórico turbulento e a inquietação no plano intimista que abala os membros de uma família depois da morte do patriarca.
 
O momento histórico em que acontece o clímax é em 2005, quando colonos judeus foram retirados à força da Faixa de Gaza por soldados israelenses. Antes de chegar a esse ponto, Gitai, e sua roteirista habitual, Marie-Jose Sanselme (Free Zone, Alila), começam a história a partir de um personagem. Um membro do exército de Israel, Uli (Liron Levo, de Munique), vai para a França ao encontro de sua irmã adotiva, Anna (Juliette Binoche, de Horas de Verão), onde irão velar o corpo do pai.
 
A cena é acompanhada pela cantora lírica americana Barbara Hendricks, que com seu canto cria um clima dúbio, colocando em dúvida se o que se vê é real ou é um delírio ou sonho de Ana. Mais tarde, o filme promove um encontro memorável do cinema contemporâneo. Juliette contracena brevemente – mas num momento-chave – com a veterana atriz Jeanne Moreau.
 
Ana é uma personagem estranha. Ela está alegre demais para um velório, parece se insinuar demais para o irmão adotivo. Aos poucos, ela passa por uma profunda transformação que irá questionar, acima de tudo, a sua identidade. Por questões familiares, ela acaba sendo obrigada a ir com o irmão para Israel.
 
Seus problemas começam logo na chegada ao país, onde ela tem dificuldades para entrar, é obrigada a separar-se do irmão e continuar a viagem sozinha. Seu maior desafio, no entanto, será enfrentar um passado que ela abandonou e encará-lo de frente. Essa foi uma das condições do testamento de seu pai.
 
Chegando à região do conflito entre colonos e soldados, Ana se depara com um realidade que não conhecia, que tanto a comove quanto a assusta. Um episódio do passado, que ela julgava esquecido, emerge com toda a força e ela é obrigada a lidar com isso. Nesse ponto, tal qual sua protagonista, Aproximação transforma-se visualmente.
 
Na primeira parte do filme, Gitai trabalha com planos longos, uma câmera que se move com elegância e certa lentidão. À medida em que Ana se transforma, tomando contato com esse novo mundo, os planos tornam-se mais curtos, a câmera mais agitada, transmitindo a tensão do lugar e daquele momento. A fotografia é assinada pelo austríaco Christian Berger, o mesmo que neste ano foi indicado ao Oscar por A Fita Branca.
 
Sem nunca cair numa metáfora barata ou simbolismos ralos, Gitai traça um retrato multifacetado e profundo do Oriente Médio. Ana tem dificuldades de comunicação, pois não fala hebraico, e as poucas pessoas que entendem inglês mal conseguem se expressar. A tensão no ar faz parecer que algo vai se romper a qualquer momento.
 
Em alguns momentos, Aproximação pode lembrar Free Zone, no qual a personagem central, interpretada por Natalie Portman, sofria um choque cultural ao chegar a Israel. Ana passa por um momento parecido, mas o fato de ela ser mais madura do que a protagonista do outro filme, ressoa de outra forma.
 
Como é seu costume, o diretor faz um cinema político que encontra espaço para questões existenciais, ponderando não apenas sobre o papel do indivíduo na sociedade, como também a questão da identidade cultural e pessoal de cada um.
 
Gitai é um dos cineastas mais importantes em atividade atualmente. E Aproximação encaixa-se com clareza em sua obra. A primeira cena do filme, um longo plano-sequência dentro de um trem, mostra Uli conhecendo e beijando uma palestina, interpretada por Hiam Abbass (O visitante). Quando questionados por um oficial sobre a estranheza daquele envolvimento, o israelense diz que aquilo não é nada político. E ela completa: “Não é nada simbólico. Só estamos no mesmo trem”. Nesse momento, o diretor parece nos sorrir com a ironia bastante simbólica dessa constatação.
 
Durante a Mostra de Cinema de São Paulo de 2007, quando o filme foi apresentado com o título A Retirada (que tem mais a ver com o original do que este usado no lançamento comercial no Brasil), Gitai, que visitava a capital paulista, contou que esta história começou a ser escrita em São Paulo, quando sua roteirista, Marie-Jose, participava da Mostra como jurada, em 2005.
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