Baseado em livro do sueco John Ajvide Lindqvist (que assinou o roteiro do filme original), Let The Right One In (algo como “deixe o escolhido entrar”), uma referência à música do inglês Morrissey, Let the Right One Slip In, o novo filme pode ser, à primeira vista, considerado mais uma história de vampiro, temática tão em voga nos cinemas e na TV. Mas trata-se de uma visão tão equivocada quanto simplista.
Longe das paixões, sensualidade e violência encontradas nas franquias Crepúsculo, True Blood ou Blade, esta história está mais centrada no lado obscuro do ser humano, ao trabalhar com assuntos densos como assassinato, crise existencial, bullying e até pedofilia. A delicada sutileza com a qual a dupla Alfredson e Lindqvist conduziu a trama tão soturna é a explicação para seu êxito.
Abby não tem nada de convencional. Parece não tomar banho, anda descalça na neve, não sente frio, não vai à escola e só aparece à noite. Mesmo assim, do inicial estranhamento, nasce uma forte amizade, que se baseia na proteção mútua.
Quando assassinatos começam a ocorrer na vizinhança, não é difícil ligar os pontos e perceber que a menina e seu pai (Richard Jenkins, de Comer, Rezar, Amar) estão diretamente envolvidos. Aos poucos, Owen desvenda quem é Abby, tornando-se evidente sua condição de vampira quando ela pede ao seu novo amigo para convidá-la a entrar em seu apartamento, antes de passar pela soleira da porta.
Embora apresente um competente trabalho técnico, Matt Reeves não possui o refinamento estético do sueco Tomas Alfredson e seu apuro visual. Mesmo a psicologia de seus personagens é mais pobre. Quando, no livro e no filme original, a vampira repele o convite de namoro com a justificativa “eu não sou uma menina”, que aponta para a confusa identidade sexual da personagem (era um rapaz, mas foi emasculado em um ritual), Reeves desperdiça oportunidades, apesar de manter a cena.
Quem gostou da versão sueca possivelmente irá torcer o nariz para esta nova produção. Muito justo, por princípio. Mas Deixe-me entrar, apesar das falhas, pode ser considerado um programa aconselhável até para quem não gosta de terror.