Na sessão para a imprensa de Pânico 4, na manhã desta quinta (14-4), um dia antes da estreia, a pedido do estúdio norte-americano produtor do filme, os jornalistas assinaram um acordo no qual se comprometiam, entre outras coisas, não revelar o final. É uma condição um tanto básica – mas, ao mesmo tempo, um tanto frustrante, pois inviabiliza textos que poderiam discutir mais a fundo o que há de melhor no filme de Wes Craven, que volta à franquia de sucesso mais de 10 anos depois de Pânico 3 (2000).
Em linhas gerais, sem revelar muito, em Pânico 4, Sidney (Neve Campbell) finalmente está superando seus traumas do passado, lançando um livro de memórias chamado “Saindo da escuridão”. Ainda assim, ela é perseguida por lembranças. A cada dia jovens conhecem sua história mais por meio da série de filmes “Stab” - que já chegou ao número sete – do que pela série de livros da ex-jornalista Gale Weathers (Courtney Cox, a eterna Monica, da série Friends).
Quando Sidney volta à sua cidadezinha para uma tarde de autógrafos, crimes acontecem e colocam em risco a vida dos jovens locais. Mais do que encenar as mortes do primeiro “Stab” – e por tabela do Pânico original – essa matança reinventa os crimes. Ou, como os personagens insistem em dizer: novas regras.
A partir daí, essa nova empreitada de Craven – novamente roteirizado por Kevin Williamson, também autor da trilogia original – segue a cartilha que a série estabeleceu. A diferença da série Pânico para os demais filmes está em que esses não se levam a sério (ufa!). E quando um personagem diz “Isto não é uma comédia, é um filme de terror”, ele mesmo está subvertendo sua frase – esta é, sim, uma comédia regada a sangue. É tanto sangue, aliás, que a partir de um momento perde-se a sensibilidade, não nos damos conta de que o que está em jogo são vidas – na tela, é claro.
Pânico 4 abre com uma série de gags que são engraçadas e sagazes – talvez um tanto demais, pois custa para o filme se reencontrar novamente. Demora para que a narrativa entre nos eixos e prove que não é apenas uma refilmagem disfarçada, mas tem algo de novo a acrescentar. E como tem! Nesta última década, a juventude mudou, especialmente a forma como se comunicam e, mais do que isso, o que comunicam. Vivemos na era do excesso de informação – o que resulta num enorme volume de informação desnecessária.
Esqueça Rede Social –Pânico 4 tem muito a dizer sobre a juventude conectada que envia vídeos, textos, posts, scraps e comentários de onde estiver. Essa é a doença contemporânea que Craven e Williamson tão bem levam à tela. “Não quero ter amigos, quero ter fãs”, diz uma personagem ávida por se tornar uma celebridade – não importa a que preço.
Pânico 4 também pode ser uma vingancinha pessoal de Craven, cujo “A hora do pesadelo” foi destruído num remake infame lançado no ano passado. E ele não está sozinho. Quando uma personagem enumera uma série de refilmagens do gênero, nos damos conta de como o cinema atual é capaz de destruir clássicos – independente de seu tamanho, seja um Hitchcock ou mesmo um trash com algum status.
É um pouco cedo para entender tudo o que Pânico 4 tem a dizer, mostrar e radiografar. Talvez seja uma obra original, digna de entrar para o cânone por retratar bem uma época e uma geração. Mas também pode ser um grande suspiro recheado de ar, que daqui a algumas décadas, ironicamente, será tema de um remake. Só o tempo para dizer.