19/03/2025
Suspense

Insônia

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A medida de um bom filme de suspense é quando não diz tudo, nem sobre seus personagens, nem sobre sua trama. Ou seja, quando não entrega logo o segredo que movimenta a adrenalina da platéia e permite que ela compartilhe as sensações de quem está na tela. Assim, quando menos espera, o espectador está no meio do tiroteio.

É isto o que faz, com maestria, este thriller conduzido pelo mesmo Christopher Nolan que assinou o eletrizante Amnésia - ganhador de duas indicações ao Oscar 2002 (roteiro original e montagem). Neste novo trabalho, Nolan adapta material alheio, na refilmagem de um suspense norueguês de 1997. Mesmo assim, confirma sua personalidade para compor nuances e somar ponto a ponto um clima crescente de angústia.

Neste filme, Nolan tem a sorte de contar com dois intérpretes vigorosos dando o melhor de si. No corpo cansado do policial Will Dormer, Al Pacino esconde sua habitual opulência como intérprete para encontrar uma chave sutil onde abrigar seu personagem cansado de guerra, abatido pela culpa.

Instalado na remota cidade de Nightmute, no Alasca, o policial, deslocado de Los Angeles para ajudar num caso difícil, encontra uma natureza hostil. O sol que fica a postos 22 horas por dia não serve para iluminar e sim para ofuscar toda a possibilidade de esclarecimento e redenção.

O mais fascinante nesta história não é encontrar o culpado pela morte de uma moça, com requintes de crueldade. O jogo está em outro campo, em que se opõe o policial assombrado por uma falha fatal e o criminoso declarado, mas impossível de capturar nesse contexto. Na pele desse criminoso, o escritor Walter Finch, Robin Williams também doma uma presença muitas vezes espalhafatosa na tela para compor um personagem verdadeiramente maquiavélico, capaz de amarrar uma teia movediça em torno de cada um de seus passos.

Algumas seqüências ficam vivas na memória - o tiroteio na neblina, que precipita uma sucessão de erros, e a perseguição entre lagos que deixa Will preso debaixo d´água gelada, onde grossos troncos de madeira dificultam sua volta à tona. Nada neste filme alivia o clima de tensão, onde a lucidez do policial Will tremula a cada noite em claro que se soma. Outra atriz que se transfigura com vantagens para sua identidade cinematográfica é Hilary Swank. Vencedora de um merecido Oscar de melhor atriz por sua interpretação de uma transexual em Meninos Não Choram, aqui ela se transforma na policial Ellie Burr - uma nativa do Alasca, cuja jornada pessoal inclui a superação de sua inocência e falta de traquejo. Seu dilema é não saber que deve renunciar à admiração incondicional pela figura paternal do policial e seu herói pessoal, Will. O olhar, que parece o sentido mais confiável, também pode ser enganado quando não entende o que vê.

Cineweb - 16/8/2002

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