08/02/2025
Drama

Tão forte e tão perto

Inconformado com a morte do pai, no atentado das Torres Gêmeas em 2001, o menino Oskar encontra uma chave no armário dele. A partir do nome escrito no envelope da chave, decide investigar qual porta ela pode abrir. O que o leva a andar por toda Nova York.

post-ex_7
A tragédia das Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 é o pano de fundo da história sentimental de Tão forte e tão perto, novo drama do inglês Stephen Daldry que conquistou duas indicações ao Oscar – melhor filme e melhor ator coadjuvante para o sempre magnético intérprete sueco Max von Sydow, num papel em que ele não pronuncia uma única palavra. E ainda assim diz tudo.
 
O problema do filme é bem o contrário do misterioso personagem de von Sydow. Tudo aquilo que no veterano ator sueco, habitué de filmes de Ingmar Bergman como O Sétimo Selo (1957), é contenção e intensidade, no filme de Daldry quase sempre se torna artifício e excesso.
 
A jornada central é do menino Oskar Schell (o talentoso estreante Thomas Horn). Aos 11 anos, ele sofre a morte do pai (Tom Hanks) no World Trade Center. Por mais que tente, a mãe, Linda (Sandra Bullock), não consegue comunicar-se com o filho, que ignora o quanto a magoa por essa espécie de indiferença emocional. É como se ele rejeitasse o fato de ter sido ela a sobrevivente, não o pai, que se ocupava tanto dele, criando uma infinidade de brincadeiras e tarefas criativas para a mente inquieta do menino – que pode ter a síndrome de Asperger, um distúrbio que afeta a socialização.
 
Para lidar com a dor da perda paterna, um trauma que tem sérias dificuldades para expressar, Oskar desenvolve sistemas engenhosos. Primeiro, montando uma espécie de oratório em sua homenagem, do qual consta, sinistramente, a gravação na secretária eletrônica que registrou as últimas ligações do pai, preso no World Trade Center em chamas – e que o menino escondeu da mãe. Depois, elaborando uma complexa estratégia para descobrir a serventia de uma misteriosa chave, encontrada no armário do pai.
 
A chave se encontrava num pequeno envelope, em que estava escrita a palavra “Black”. Oskar decide, então, empreender uma busca detetivesca pela cidade de Nova York. Na lista telefônica, encontrou 472 pessoas com o sobrenome Black, que passará a procurar daí em diante. Tudo sem informar à mãe, que aparentemente não sabe de nada.
 
O plano de Oskar parece bem arriscado, não só pelo tamanho da tarefa, como pelo fato de cruzar a grande cidade a pé, sem usar transporte público, em busca dos Blacks. O risco de ser rechaçado é outro mas, já na primeira visita, a Abby Black (Viola Davis, de Vidas Cruzadas), parece que não será este o problema. Apesar de estar sendo abandonada naquele instante pelo marido, William (Jeffrey Wright), e debulhada em lágrimas, ela acolhe o menino. Mas não tem nenhuma informação sobre a chave.
 
A busca prossegue, infrutífera, enquanto Oskar vai aos quatro cantos da cidade, sem ser tocado por qualquer perigo, nem propriamente maltratado por ninguém. De repente, ele ganha até um companheiro de investigação, o misterioso inquilino de sua avó (Max von Sydow). Por algum motivo, ele não fala. Comunica-se por escrito e especialmente pelas mãos, numa das quais já escreveu “sim”, na outra, “não”.
 
Todos estes detalhes exóticos estabelecem um clima de fábula, que poderia funcionar melhor, caso contassem com uma disposição mais enxuta e fluente, ou uma preocupação menor do diretor de criar um clima edificante. Do modo como foi escrita e conduzida, a narrativa se artificializa cada vez mais, deixando escapar o drama real e profundo da desestruturação desta família por uma tragédia absurda, que atingiu milhares de outras em Nova York.
 
Mais simplicidade, mais intensidade soariam mais verdadeiros. Não dá para acreditar muito, por exemplo, na passividade da mãe de aceitar que o menino se arrisque pelas ruas de Nova York à procura de estranhos. Um detalhe mais adiante explica algo sobre essa atitude dela e com certeza se poderia ter suspeitado disso antes. Mas a explicação chega tarde. A esta altura, e não só por esse motivo, Tão forte e tão perto já afundou num mar de truquezinhos, de artifícios. A genuína emoção ficou em algum lugar pelo caminho, apesar do talento do notável elenco envolvido.
post