Conspiração Americana é um filme de época que, no fundo, mira no presente. Ao falar da conspiração que resultou no assassinato do presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln e da prisão e julgamento de uma inocente, o diretor, Robert Redford, aponta nos Estados Unidos contemporâneo, mas nem sempre acerta o alvo. No centro da trama está a viúva Mary Surratt (Robin Wright), acusada de traição e dona da pousada onde os conspiradores se reuniam, e mãe de John (Johnny Simmons), que talvez faça parte do grupo.
O filme começa durante a Guerra Civil Americana, quando conhecemos Frederick Aiken (James McAvoy), capitão de bom coração e alguma ambição, que se materializa na carreira de advogado no pós-Guerra, quando os Estados do Norte, os quais defendeu, saíram vitoriosos. A princípio ele fica temeroso de defender Mary, mas ao conhecê-la e a sua filha, Anna (Evan Rachel Wood), a causa se torna a razão da vida do rapaz, que passa a acreditar na possibilidade de Mary não estar envolvida com os conspiradores.
O pano de fundo da trama, que se passa no século XIX, é um país traumatizado com a guerra e sofrendo ainda suas consequências, num momento de instabilidade e terror político. Há algo de estranho no filme, no qual os estados do norte parecem se desculpar o tempo todo pelos estragos e fazem uma mea culpa, com soldados valentões e burocratas arrogantes. O sul, por sua vez, parece ter as personagens mais guiadas por uma ideologia – nem sempre a melhor, mas, em todo caso, já é alguma coisa.
O roteiro, assinado por James Solomon, é fruto de uma longa pesquisa, e seu questionamento levanta uma discussão atemporal: se os direitos de Mary foram violados, este é um crime contra toda uma nação, uma vez que a Constituição funciona da mesma forma para todos. Personagens do filme podem fazer uma relação com figuras do presente. Kevin Kline faz o malvado secretário de Guerra, uma espécie de George W. Bush de sua época – especialmente quando defendeu o Ato Patriota contra o terrorismo – e Barack Obama estaria presente por meio do Senador Democrata Reverdy Johnson (Tom Wilkinson).
Os atores nem sempre parecem confortáveis em seus papeis, nos figurinos excessivos e na direção de arte rebuscada. Mais do que viver seus personagens, eles parecem cientes de estarem apenas atuando e, ao mesmo tempo, tentando transmitir uma mensagem profunda sobre igualdade e liberdade. Mary, por exemplo, é uma personagem que causa apenas piedade, quando deveria despertar uma paixão por sua causa – como faz com Aiken.
O filme é repleto de boas intenções mal colocadas, e, com o passar dos minutos (de suas mais de 2 horas) se torna enfadonho, acumulando aquilo que um filme de época não deveria ter: a poeira do tempo. Por outro lado, a peça de teatro a que Lincoln assistia quando foi assassinado parece bem mais interessante.