20/03/2025
Drama

Elles

Anne é casada e mãe de dois filhos, dividindo seu cotidiano doméstico com a atividade de jornalista. Quando ela vai escrever uma reportagem sobre jovens universitárias que trabalham como garotas de programa, ela descobre as contradições desse mundo e também as suas.

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Não raro, a atriz francesa Juliette Binoche dá asas a projetos que, sem ela, jamais decolariam. É o caso de Elles, uma coprodução entre França, Polônia e Alemanha, dirigida pela polonesa Malgorzata Szumowska.
 
Não há um ponto de partida lá muito original. Binoche interpreta Anne, uma jornalista de classe média alta, da revista “Elle”. Com um perfil família, ela, que é casada com um executivo, Patrick (Louis-Do de Lencquesaing) e mãe de dois filhos, empenha-se em escrever uma ampla reportagem sobre universitárias que trabalham como garotas de programa.
 
Duas personagem dominam a matéria escrita por Anne – a jovem Alicja (Joanna Kulig), desinibida e sem culpa diante da alta renda que lhe proporciona a atividade clandestina, que ela esconde da mãe na Polônia. Outra é Charlotte (Anaïs Demoustier, de As Neves do Kilimanjaro), que disfarça sua verdadeira profissão com um emprego de meio-período no comércio, para enganar o namorado e os pais.
 
O eixo do roteiro, escrito a quatro mãos pela diretora e Tine Byrckel, é o choque de valores da jornalista e das prostitutas – embora, em nenhum momento, o filme se proponha a uma cruzada moral.
 
De todo modo, é possível perceber falta de sutileza na maneira como a diretora conduz este contraste, reduzindo a clichês as tentativas de Alicja para escandalizar a refinada Anne sobre as ousadias que ela relata viver com seus clientes, enquanto tenta embebedar sua interlocutora.
 
Charlotte parece uma personagem mais verdadeira, que expõe com mais sinceridade as contradições de sua situação, que se tornam palpáveis na tela. Como suas revelações sobre um desastroso encontro com um cliente sádico (Andrzej Chyra) e seus almoços com os pais carinhosos e normais (Valérie Dreville e Jean-Louis Coullo’ch) – desmontando um outro clichê sobre a prostituta que viria, necessariamente, de um meio familiar problemático.
 
O aspecto em que o filme se revela mais frágil é quando tenta retratar o conflito que se insinua entre Anne e o marido, que tem um histórico anterior à sua reportagem com as prostitutas mas se acirra devido ao teor de intimidade das conversas da jornalista com elas – que a fazem entrar em contato mais profundo com sua insatisfação.
 
A diretora perde uma grande oportunidade de tirar melhor proveito de uma intérprete do quilate de Juliette Binoche e investigar, com mais grandeza, um tema que toca de perto a condição feminina.
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