O que se espera de um filme sobre o apocalipse? Destruição, gente morrendo, não sem antes se arrepender de seus pecados? Explosões, correria, gritaria e uma dose de catarse? Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, que estreia no país nessa sexta-feira, vai na contramão desses clichês ao fazer uma leitura intimista do dia do juízo final que, claro, não acontece como na Bíblia.
O longa, escrito e dirigido pela estreante Lorene Scafaria, pode ser lido como uma espécie de versão americana de “Melancolia”, para o bem ou para o mal. Subtrai-se qualquer densidade que há no filme do dinamarquês Lars von Trier por risadas numa comédia romântica agridoce – talvez, doce demais para as possibilidades que se abrem e que a diretora não explora.
Faz sentido que as pessoas fiquem desesperadas em busca de amor e de redenção, ou que se reduzam à condição animal, seguindo seus instintos primitivos. Mas, no filme, o mundo está a caminho da destruição apenas para que Dodger (Steve Carell, de Um divã para dois) reencontre o prazer de amar e possa melhorar a sua vida – embora todo esse conceito, na conjuntura de mundo apresentada, se manifeste tarde demais.
Já se sabe que a Terra está com os dias contados quando ele conhece sua vizinha boêmia Penny (Keira Knightley, de Um método perigoso) que acaba de brigar com o namorado (Adam Brody) e tem hábitos estranhos como dormir por dias e carregar para onde vai alguns de seus mais preciosos discos de vinil, sua companhia para o dia em que o asteroide Matilda atingir a Terra.
Essa relação entre os protagonista se abre aos poucos – e enquanto existe a negociação e a desconfianca entre eles, o filme é mais interessante, abrindo caminhos que poderia percorrer, mas que desiste para optar pelo óbvio. A química entre os protagonistas ajuda e Carell – como em filmes como O virgem de 40 anos, Eu, meu irmão e nossa namorada e Amor a toda prova – parece talhado para esse tipo de personagem: o sujeito de bom coração, mas um tanto bobão que precisa de um tratamento de choque para despertar.
As pessoas que cruzam o caminho da dupla - como um caminhoneiro que lhes dá carona, um ex-namorado de Penny que construiu um abrigo com comida e armas e espera contar com ela para repovoar a Terra – trazem outras facetas de como as pessoas enfrentam esse momento drástico. São figuras interessantes que entram e saem sem deixar uma marca muito forte – embora seus veículos se tornem úteis para os protagonistas.
A sacarina de Procura-se um amigo... não é bem a resposta mais viável para o niilismo de Melancolia – até porque é covardia comparar os dois filmes. Enquanto von Trier é um cineasta experiente, com ideias sólidas e um projeto de cinema, Scafaria dá os seus primeiros passos. Acerta em alguns, erra em outros.