21/03/2025

Seis histórias que viajam no tempo e espaço tentam mostrar que a experiência humana é bastante parecida, independente do século ou lugar. Entre elas, um médico que tenta roubar o ouro de um aristocrata num navio no século XIX, uma repórter que investiga uma usina nuclear nos anos de 1970, e uma tribo num Havaí pós-apocalíptico que recebe a visita de uma alienígena em busca de uma alternativa de sobrevivência.

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 A Viagem, dirigido pelo trio Tom Tykwer, Andy Wachowski & Lana Wachowski – são seis filmes em um. Poderia ser vantagem – pagar um ingresso e ganhar vários longas – se algum deles funcionasse direito, o que não é bem o caso. Adaptado do romance pós-moderno Cloud Atlas, do inglês David Mitchell, o enredo embaralha as histórias, que se passam em eras e lugares distintos, o que acaba evidenciando ainda mais a ideia do livro: que a experiência humana é mesmo independente do tempo e do espaço.
 
No romance, cada segmento acontece separadamente – como se fossem contos interligados - com alguns deles pontuando a divisão. Aqui, no roteiro assinado pelos diretores, as narrativas acontecem paralelamente, pulando sem parar da Inglaterra dos anos de 1930 para uma ilha havaiana num futuro pós-apocalíptico, depois para outro futuro distópico num lugar chamado Nova Seul e outros tempos e lugares.
 
O elenco tem como protagonistas Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugh Grant, Susan Sarandon, Jim Sturgess, Hugo Weaving, James D’Arcy e Ben Wishaw. Cada um interpreta diversos papéis, mudando de sexo, cor da pele ou etnia, o que é resolvido por um complexo trabalho de maquiagem. Assim, Halle faz uma jornalista nos anos de 1970 investigando uma usina nuclear, uma alienígena no futuro ou uma aristocrata judia na década de 1930. Hanks também é o membro de uma tribo, um médico num navio do século XIX ou um escritor beberrão no século XXI.
 
Tratar a nossa contemporaneidade, aliás, como presente no filme seria um equívoco, pois “A viagem” – tal qual define o pós-moderno – não distingue passado, presente e futuro. Não há propriamente um tempo presente no filme, e, no embaralhamento das cenas, é fácil perder a noção do tempo. A primeira trama acompanha um navio no século XIX onde um médico (Hanks) tenta roubar a fortuna de um aristocrata (Sturgess). Seguindo cronologicamente, nos anos de 1930, um jovem compositor (Whishaw), deixa seu amante (James D'Arcy) em Cambridge e torna-se uma espécie de secretário de um velho músico, famoso e um tanto decrépito (Broadbent), na esperança de conseguir a fama.
Na década de 1970, uma jornalista (Berry) investiga uma usina nuclear e é perseguida. Em 2012, um editor fracassado (Broadbent) reencontra o sucesso quando o autor (Hanks) do livro que publicou joga um crítico do alto de um prédio. Porém, descobre que o dinheiro que ganhou só deu para pagar as dívidas. Quando é pressionado por gângsters ligados ao escritor, o editor pede ajuda ao seu irmão (Grant), que o interna num asilo. Na futurista Nova Seul, garçonetes de uma rede de fast food são produzidas artificialmente e acabam descartadas como lixo. Uma delas (Doona Bae) se rebela contra isso. Sua mensagem ecoará por séculos numa tribo numa ilha do Pacífico, visitada por uma alienígena (Berry), que está em busca de uma alternativa de sobrevivência para seu povo.
 
Embora sejam três diretores conhecidos e experientes – os irmãos Wachowski assinaram a trilogia Matrix e o alemão Tykwer, Corra, Lola, corra – nenhum deles deixa uma marca autoral nítida em seus segmentos. Depois de quase 3 horas de projeção, o que resta na memória é uma música melosa e incessante – que tem co-autoria do próprio Tykwer, além de Reinhold Heil e Johnny Klimek -, e fragmentos de diálogos que parecem saídos diretamente de um manual de autoajuda.
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