Ficção de estreia do francês radicado na Bahia Bernard Attal, o drama A Coleção Invisível produziu-se em torno de uma série de pequenas coincidências, envolvendo o ator Walmor Chagas (1930-2013). Foi a admiração pelo escritor austríaco Stefan Zweig – em que se baseia o roteiro – que permitiu a primeira aproximação entre o ator e o diretor. Walmor já devia ter conhecido cerca de 40 anos antes a locação do filme, Itajuípe (BA), uma vez que apenas uma hepatite de última hora o tinha afastado do elenco de Os Deuses e os Mortos (1970), de Ruy Guerra, ali realizado.
E foi justamente A Coleção Invisível, filmado em 2011, que acabou sendo o último trabalho de Walmor no cinema, pelo qual foi premiado postumamente como melhor ator coadjuvante no Festival de Gramado – em que a obra recebeu dois outros troféus, melhor atriz coadjuvante para Clarisse Abujamra e melhor filme para o júri popular.
O roteiro, de Attal, Sergio Machado (diretor de Quincas Berro d’Água) e Iziane Mascarenhas, toma algumas liberdades, como trazer para a contemporaneidade uma história originalmente ambientada nos anos 1920. Além disso, adota como cenário de decadência econômica a região cacaueira baiana, ainda exibindo visíveis sinais da passagem da praga “vassoura de bruxa”, um assunto que Attal investigou em seu documentário Os Magníficos (2010).
A Coleção Invisível começa em outro cenário, em ambiente urbano, onde Beto (Vladimir Brichta), pequeno empresário de eventos musicais, sofre a perda de cinco amigos num acidente. Pressionado pela tristeza e as dificuldades econômicas, recebe a informação de que um velho fazendeiro, Samir (Walmor Chagas), amigo de seu falecido pai, que era marchand, guarda uma preciosa coleção de gravuras.
Tentando reinventar-se na profissão paterna, Beto parte para a região cacaueira, onde mora Samir, sendo sistematicamente impedido de vê-lo por sua mulher (Clarisse Abujamra), alegando que ele está doente. A filha dele (Ludmila Rosa) não é de maior ajuda.
Paralelamente à trama central, o filme incorpora personagens curiosos, como o motorista de táxi (Frank Meneses) e um esdrúxulo radialista (Paulo César Pereio), além de crianças locais, que servem de guias para Beto. Essas imagens e pessoas reais enraízam o enredo numa realidade social que tem, igualmente, o poder de consolidar um mergulho de realidade para Beto, um tanto leviano até este momento.
A resolução da história, fiel ao livro original, é desenvolvida com a necessária contenção e sutileza. É aí que o filme realmente cresce, justificando alguns desvios, embora nem tanto alguns tropeços – como a atuação acima do tom de Ludmila Rosa, um tanto agressiva demais em algumas cenas com Brichta, que faz seu primeiro papel dramático no cinema.