Para um documentário, Blood Money – Aborto Legalizado tem um problema de partida: nega qualquer tipo de discussão, assume apenas um ponto de vista (contra o aborto) e segue catequizando e distribuindo informações sem fontes para vender sua ideia. É básico para que o gênero renda algo de mera panfletagem que, ao menos, duas posições sobre um assunto sejam exploradas – o que não é o caso aqui.
Dirigido pelo americano David Kyle, o longa tem cara de filme de auto-ajuda – à la O segredo e afins – e é conduzido por Alveda King – ativista e sobrinha de Martin Luther King – que liga diversas entrevistas de mulheres que abortaram, ex-abortistas, donos de clínica e outros ativistas. Sem trazer qualquer novidade, o longa insiste no fato de que ‘aborto é uma indústria e irá fazer de tudo para conquistar mais clientes’, o que não deixa de ser mentira, mas, a questão é bem mais delicada do que apenas princípios capitalistas. Kyle não entra em casos mais delicados – como estupro ou aborto de anenecéfalos – exatamente porque seu único argumento cairia por terra.
Um filme machista que apenas reitera discursos opressores vigentes, Blood Money – Aborto Legalizado condena a todas as mulheres que fazem aborto, e não traz entrevista de nenhuma que não tenha se arrependido do que fez. Para um contraponto a esse documentário, a sugestão é o brasileiro O aborto dos outros, de Carla Gallo, que se aprofunda na questão com muito menos doutrinação e mais honestidade.