Como em toda obra do cineasta Sérgio Bianchi, seu mais novo trabalho, Jogo das Decapitações, transita entre a sagacidade e a ingenuidade, tendo como veículo a bile. O filme pode ser qualquer coisa, menos não atual. Como o recente Riocorrente, o longa capta o momento contemporâneo, o pós-junho de 2013, que reverbera até hoje.
Ao centro, Leandro (Fernando Alves Pinto), rapaz sem aspirações ou rumo na vida, mestrando na USP, onde pesquisa sobre memória e ditadura, filho de uma ex-presa política, Marília (Clarisse Abujamra), atualmente diretora de uma ONG, e na esperança eterna de receber uma indenização pelas torturas que sofreu.
Em sua pesquisa, que envolve arquivos desaparecidos da época da ditadura, Leandro encontra a obra de Jairo Mendes (Paulo César Peréio, quando velho; e João Velho, na juventude), cineasta e escritor maldito, cujo filme Jogo das Decapitações é dado como perdido, depois de proibido pela censura. Quando o rapaz vê a notícia de que o artista morreu degolado numa rebelião num presídio onde cumpria pena, ele fica ainda mais obcecado.
Em Jogo das Decapitações, Bianchi deixa de lado a sutileza que esteve presente em seu filme anterior – Os inquilinos – e, novamente, atira para todos os lados sem poupar praticamente nada: a direta e esquerda, as manifestações populares, políticas sociais, movimentos estudantis, mundo acadêmico, arte etc. Nada muito diferente do que fez até então, em filmes como Quanto vale ou é por quilo e Cronicamente inviável.
A falência da sociedade como um todo passa pela arte, pela educação, e, acima de tudo, pelas ideologias que estão cobertas por uma bruma. Ao fim, não há saída, e nos resignemos à barbárie, parece dizer o filme.