O longa apresenta a pianista Aurore (Jasmine Trinca) no auge da sua forma como instrumentista, quando uma crise e a morte do pai a fazem interromper sua promissora carreira. Ela resolve, então, passar um tempo em uma casa da família no sul da França, onde conhece o eletricista Jean (Joey Starr), que instala alarmes de segurança no imóvel. Se os dispositivos não detectam nenhuma invasão, o filme logo alerta, não só para o surgimento de um sentimento recíproco entre a cliente e o prestador de serviços, mas também para a presença de uma terceira pessoa nesta relação: a mulher dele, a vendedora de uma loja de roupas, Dolorès (Virginie Ledoyen).
A paixão entre os protagonistas acontece rápido demais, ao mesmo tempo que não apresenta o fervor esperado. Além de não conseguir envolver o espectador até bem mais da metade da película, de modo que o público fique realmente interessado na história e em seus personagens, o cineasta ainda coloca no script momentos desnecessários, como a quase imitação da clássica cena de A Dama e o Vagabundo (1955). Uma recorrência de fade out’s, um off desconexo no final e a trilha sonora, naturalmente composta de músicas clássicas, mas introduzida excessivamente no decorrer do longa igualmente aumentam o melodrama já existente no texto.
Somente quando acontece uma reviravolta na vida do trio, observa-se uma melhora no ritmo do filme, pois a trama, ainda mais melodramática, flerta também com o suspense, dando destaque à amargurada e vingativa Dolorès. É a chance que Virginie Ledoyen tem de roubar a cena e assim o faz – e bem. Sua interpretação se sobressai, mesmo a frente de um desempenho surpreendente do rapper Joey Starr como o homem casado, atormentado pelo desgosto com sua própria vida e seus desejos, em total ponto de equilíbrio, diferente de Jasmine Trinca, oscilante entre uma atuação mais contida e uma mais teatral.