Dr Lauro (Bruno Gagliasso) não é um psiquiatra muito cinéfilo. Se o fosse, teria visto Anticristo, de Lars Von Trier, e saberia que a cura caseira para mulheres com problemas emocionais numa cabana não costuma funcionar. E, ainda assim, contrariando qualquer gota mínima de bom senso, o médico, protagonistas de Isolados, leva sua namorada, Renata (Regiane Alves) para uma bela casa na região serrana carioca, onde pretende curar a moça dos males que a atormentam.
O filme escrito por Mariana Vielmond, e dirigido por Tomas Portella (Qualquer Gato Viralata) é uma mistura de Anticristo com Sob o Domínio do Medo, de Sam Peckinpah, sem nem chegar perto de nenhum desses dois filmes. Involuntariamente cômico, o longa nacional cria situações estapafúrdias, usa de clichês surrados do gênero, para chegar num final surpresinha que é um tanto óbvio. Existe uma vontade de se fazer aqui um filme de gênero – o que, no fundo é apenas uma desculpa para se rotular e colocar numa prateleira de locadora, afinal, filme bom transcende gênero.
A caminho da casa de campo emprestada, Dr Lauro para num bar de beira de estrada e fica sabendo que mulheres estão sendo assassinadas e seus corpos violados. A polícia já está investigando, mas sem resultados concretos. Para evitar que sua atormentada amada fique ainda mais atormentada, ele esconde isso de Renata. A moça é dada a passeios pela mata sozinha – para desespero do rapaz, que ainda assim, esconde dela os perigos.
Gagliasso (que também é credito como produtor associado) e Regiane são esforçados, e, embora limitados, a culpa do desande da receita não é exclusivamente deles. Os personagens são pouco palpáveis – até no universo da ficção – e parecem se comunicar por clichês. A relação entre o casal, no entanto, vai se girando, até que tomem papeis opostos: ele, a figura passiva; ela, a ativa. Num outro ponto da narrativa, o filme acompanha um delegado e um policial (Orã Figueiredo e Sílvio Guindane), que investigam os desaparecimentos e mortes na região.
Esse foi um dos últimos trabalhos do ator José Wilker – morto em abril passado – que também é pai da roteirista. Aqui, ele interpreta um psiquiatra veterano, uma espécie de guru de Lauro.