Nesses momentos o cinema se transforma em testemunha da história e suas imagens servem para alertar, educar, denunciar ou preservar a história dos povos. Como não se presta à diversão nem ao consumo simultâneo de pipoca, esse tipo de cinema atrai um público mais restrito e enfrenta dificuldades para chegar às salas de exibição.
A atriz Lucélia Santos não se deixou abater pelas adversidades quando decidiu embarcar para o Timor Leste, no meio de um conflito armado ainda não concluído, para filmar Timor Lorosae - O Massacre que o Mundo Não Viu. Para o público brasileiro, a identificação mais imediata com esse povo está na única coisa que nos une, além da miséria endêmica - a língua portuguesa.
Com o auxílio de imagens de massacres filmados pelo documentarista inglês Max Stahl e cenas históricas de arquivos da TV portuguesa, a diretora constrói seu filme com as cenas que captou durante os 30 dias em que permaneceu no país, visitando povoados e entrevistando vítimas da violência desencadeada pelas milícias a soldo da Indonésia.
Algumas imagens, como o ataque aos manifestantes em um cemitério, filmadas por Stahl, são dramáticas. Não há como não manifestar solidariedade à luta desse povo por sua independência, depois de uma resistência tão sangrenta à ditadura de Suharto.
Natural que o filme apresente alguns problemas no roteiro e condução da história. Alguns depoimentos são muito longos e cansativos, apesar de importantes para a compreensão dos episódios. As dificuldades enfrentadas por Lucélia foram inúmeras e seu batismo de fogo nessa guerra quase secreta serviu para ajudar os timorenses em sua luta pela liberdade e pela busca de justiça.