Premiada diretora de arte e curta-metragista idem, a partir de sua promissora estreia, Super Barroco (curta lançado na Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2009), a pernambucana Renata Pinheiro assina com segurança sua estreia em longas de ficção com Amor, Plástico e Barulho.
A trepidante cena da música brega do Recife é o ambiente em que habitam suas personagens, as cantoras Jaqueline (Maeve Jinkings) e Shelly (Nash Laila). Jaqueline é a estrela, consagrada num circuito de shows que não escolhe palco, dividindo-se entre bares, clubes, associações, praticamente qualquer lugar. Uma glória feita de plástico, de seus adornos baratos e de muitas músicas descrevendo as dores de amor que não saem da boca do povo – como as conhecidas Faço de mim o que quero e Chupa que é de uva.
Shelly é uma das dançarinas da trupe de Jaqueline a quem o acaso dá uma oportunidade, a partir da briga da outra com seu namorado, Allan (Samuel Vieira).
Explorando esta rivalidade, o filme, roteirizado por Renata e Sergio Oliveira, constrói uma narrativa que se estrutura sensorialmente, na pele das cantoras, na sensualidade explícita que exala de suas apresentações – uma situação que fornece uma oportunidade esplêndida para confirmar Maeve Jinkings (O Som ao Redor) como a atual musa do cinema brasileiro, tão bela e expressiva como excelente intérprete. Maeve, aliás, foi uma das premiadas no Festival de Brasília 2013, como melhor atriz, ao lado de Laila, melhor coadjuvante feminina, e melhor direção de arte para Dani Vilela.
Recusando cacoetes e muletas narrativas, Amor, Plástico e Barulho confia mais na imagem, na elaboração de seus climas, seguindo situações que vão se desenrolando de moto próprio, coladas a uma naturalidade quase documental. A história se desloca mais no comportamento dos personagens do que propriamente em suas falas, embalando trajetórias anônimas, pontuadas por sonhos e desilusões, mas também uma invencível esperança. Uma esperança autêntica de recomeço, para a qual não vale o falso brilho do sucesso efêmero.