O despojamento da Nouvelle Vague impregna cada imagem deste filme, longa de estreia do diretor Damien Manivel que venceu uma Menção Especial na mostra Cineastas do Presente, em Locarno 2014.
Para começar, o projeto de nutrir um filme com uma história muito simples, que se impregna da corporalidade de seu protagonista, Rémi Taffanel, de 18 anos, tornam natural seu processo de crescimento e seu sonho de ser um poeta.
A filmagem nas ruas e ladeiras ensolaradas de Sète, no sul da França, são outra lembrança da Nouvelle Vague – é ali, por exemplo, que Agnès Varda cresceu e também filmou sua estreia, La Pointe Courte (54).
Isso não quer dizer que Um Jovem Poeta fique eternamente pendurado nessas claras referências, que são só uma filiação do filme, seu espírito. A narrativa é fluida, despretensiosa, embarcando nas caminhadas de Rémi ladeira acima, ladeira abaixo, no verão de Sète, transformando em passos sua inquietação – afinal, como é que a gente se torna um poeta ?
Ele se empenha em todas as direções, a mais natural, sentar-se diante da tumba de um poeta estabelecido – que, embora o filme não mostre, deve ser Paul Valéry, que não só está ali sepultado, como é autor de um poema dedicado a esse incrível cemitério com vista para o mar, Cimetière Marin. E com direito a uma cena de conversa com o fantasma do Poeta (Denis Taffanel).
Mas é na busca de uma musa que a missão poética se complica – e se aproxima mais uma vez de uma comparação nouvelle-vaguiana, pois aí Rémi lembra um pouco o Antoine Doinel de François Truffaut. São delicadas e ao mesmo tempo atrapalhadas as aproximações de Rémi a Léonore (Léonore Fernandes), a jovem fotógrafa que também procura sua vocação nas ruas de Sète, mas parece mais segura, mais próxima de seu objetivo.
Alguns momentos de humor brotam da convivência entre Rémi e o amigo Enzo (Enzo Vassallo), com quem ele mergulha no mar e a quem mostra alguns de seus poemas – e o amigo estranha a linguagem rebuscada...
E então, onde fica a inspiração? No amor? Na rua? Na praia? Na vodca? Rémi tenta de tudo. É aí que fica claro que viver e fazer poesia, no fundo, são a mesma coisa. Há que mergulhar, se questionar, improvisar, ir adiante.