Iris e Jo são duas irmãs que cresceram diferentes em tudo. Mimada pela mãe, Iris sempre foi a mais bonita e privilegiada, enquanto a delicada Jo era sempre ignorada, exceto pelo pai, que morreu. Adultas, elas têm vidas diferentes. Mas Iris precisa urgentemente de Jo, para escrever, em seu lugar, um livro que ela havia prometido. O livro é um sucesso.
- Por Neusa Barbosa
- 01/07/2015
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Partindo do romance homônimo de Katherine Pancol, a diretora e corroteirista belga Cécile Telerman cria um melodrama que verga sob o peso de um excesso de seriedade e falta absoluta de ironia, apesar do bom elenco.
Não há um único ator, aliás, que não sucumba ao peso da caricatura de seu próprio personagem, tornando-o vazio, carecendo de sangue, nervos, espírito.
A trama central opõe, desde a infância, duas irmãs, uma bela e bem-sucedida, Iris (Emmanuelle Béart), outra humilde e sofredora, Joséphine (Julie Depardieu). Desde meninas, a mãe (na velhice, interpretada por Edith Scob) privilegia Iris – a ponto de deixar para trás, quase provocando seu afogamento, a pequena Jo, num incidente numa praia, preferindo trazer Iris. O pai, que protegia Jo, morreu.
Na vida adulta, as duas reproduzem os estereótipos impostos por essa educação, sem o mínimo desvio. Iris tornou-se a mulher de um advogado muito bem-sucedido, Philippe Dupin (Patrick Bruel), com quem tem um único filho, a quem não dá muita atenção. Jo, por sua vez, apesar do bom preparo acadêmico e da especialização em história medieval, sofre para pagar as contas.
O pior, para Jo, é que seu marido Antoine (Samuel Le Bihan) está desempregado, esnoba empregos que considera abaixo de sua formação e, pior, envolveu-se com uma manicure que mora perto de sua casa. Num raro momento de afirmação e auto-estima, Jo o coloca para fora de casa, o que desperta a fúria de sua filha mais velha, a insuportável adolescente Hortense (Alice Isaaz), uma cópia fiel, aliás, de sua tia Iris. A caçula (Apollonia Luisetti), claro, é doce e humilde como a mãe.
A passividade de Jo é exasperante. Assim, ela não resiste muito a aceitar a proposta delirante da irmã, de escrever para ela, como sua ghost-writer, um romance, que Iris assumiu o compromisso de fazer, mas não tem a menor competência.
O livro, um romance ambientado na Idade Média, tem sucesso imediato. A bela e vaidosa Iris torna-se uma celebridade midiática, feliz da vida, enquanto Jo recebe secretamente uma compensação financeira.
Um diretor mais sutil, ou experimentado para extrair humor destas situações – caso de um Pedro Almodóvar, por exemplo – teria às mãos um material para uma exploração menos carregada destes sentimentos confusos. Mas a diretora prefere recair no excesso de cada personagem, de cada situação, retirando a chance de ter empatia por qualquer uma delas. Faltou leveza, sobrou novelão.