21/03/2025
Policial Ação

Operações Especiais

Francis só queria um cargo burocrático na polícia quando foi aprovada no concurso. Porém, quando uma onda de crimes surge numa pequena cidade do interior, ela é convocada a fazer parte da equipe que irá para o local. Sem qualquer experiência, ela precisará aprender a ser policial na prática.

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Operações Especiais é um policial de ação protagonizado por Cleo Pires que mais parece um piloto de série de televisão – e isso é um elogio. Dirigido por Tomás Portella (Isolados), a partir de um roteiro dele e de Martina Rupp, o longa acompanha a iniciação de Francis (Cleo), jovem que entrou para a polícia por acaso, querendo ser apenas burocrata e é obrigada a se tornar agente de campo.
 
Quando conhecemos a protagonista, ela é estudante de turismo que trabalha num hotel e pensa em prestar um concurso qualquer para ter estabilidade financeira. Logo consegue entrar para a polícia, e ela, que nunca pegou numa arma, fica feliz em passar os dias sentada atrás de uma mesa digitando e carimbando. Até que uma onda de crimes numa cidade do interior torna necessária a escalação de uma equipe especial, e Francis acaba sendo incluída.
 
Uma das qualidades do filme é contar com uma personagem bem-construída – e Cleo Pires está em seu melhor papel no cinema. Francis entra para um time só de homens, em que todos a irão zombar e menosprezar. Além disso, não existe uma fórmula milagrosa que a transforme numa policial exemplar do dia para a noite. Ela comete vários erros, não sabe usar uma arma (e vai levar um tempo para aprender) e terá dificuldade para ganhar a confiança de todos, inclusive do delegado Paulo Froés (Marcos Caruso), que coordena a equipe.
 
A cidade de São Judas do Livramento tornou-se palco de uma batalha entre bandidos – que saíram da capital rumo ao interior –, e duas crianças são as primeiras vítimas. Logo de cara os policiais compram brigas com antigos bandidos e ex-colegas corruptos, além dos políticos do lugar, acostumados com esquemas pouco lícitos.
 
Da equipe, destacam-se Décio (Fabricio Boliveira) e Roni (Thiago Martins). Entre os inimigos, estão o prefeito local (Augusto Madeira) e um ex-policial (Antonio Tabet). Obviamente, a construção dos personagens – excetuando a protagonista – é maniqueísta. Os policiais aqui são totalmente incorruptíveis. A questão que o diretor quer levantar é: estamos preparados para uma polícia incorruptível?
 
Teoricamente, a ideia é boa. Também, teoricamente, num momento como esse que o Brasil passa, a ausência de corrupção na polícia já seria alguma vantagem. A questão, no entanto, é que ao sair com uma pergunta (tentadora) como essa, o filme deixa de lado algo mais profundo: a corrupção estrutural inerente ao sistema. Como seria esse mundo em que o aparato repressivo do Estado parece estar desvinculado das estruturas que o sustentam? “Operações Especiais” acerta bastante quando se propõe a ser um filme policial – pode render uma série de televisão bastante boa se um dia vier a ser. Mas quando tenta enveredar pelo campo da ideologia, mira nos alvos mais fáceis sem tocar num contexto mais amplo.
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