24/04/2025
Policial Drama

Aliança do crime

James "Whitey" Bulger era um pequeno criminoso da zona sul de Boston. Até o dia em que seu amigo de infancia, John Connolly, como ele de ascendência irlandesa e agora agente do FBI, lhe propõe tornar-se informante do governo para pegar a máfia italiana. Bulger topa e aproveita o massacre de seus principais rivais para tornar-se, ele mesmo, um dos mais implacáveis gângsters da região.

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De tempos em tempos, o astro Johnny Depp deixa de lado seu mais bem-sucedido personagem, o engraçado malandro Jack Sparrow da franquia Piratas do Caribe, e se arrisca em papeis mais empenhados. É o caso de Aliança do Crime, drama em que encarna um dos mais famosos gângsters da história de Boston, James “Whitey” Bulger, escondendo seu rosto habitualmente jovial debaixo de pesada maquiagem, uma calvície galopante e lentes azuis que lhe dão um ar frio, implacável.
 
Certamente, esta transformação física virá à tona ao se avaliar o filme, mas seria uma pena se se esgotasse por aí. Vai bem mais longe do que isso a interpretação de Depp do temível criminoso, um personagem real, hoje com 86 anos e condenado a duas sentenças perpétuas consecutivas por inúmeros assassinatos. A postura física e especialmente a voz gutural do ator neste papel são ainda mais impressionantes do que a maquiagem, numa atuação que muitos críticos consideram uma das melhores de toda a carreira de Depp.
 
Partindo de um livro dos jornalistas Dick Lehr e Gerard O’Neill, o roteiro do filme de Scott Cooper não pretende esgotar-se numa mera cinebiografia de bandido. Como indica o título brasileiro, o foco está na clandestina aliança entre Bulger e um agente do FBI, seu amigo de infância John Connolly (Joel Edgerton). Querendo fazer bonito e se dar bem na vida, ainda que por meios ilícitos, Connolly coloca Bulger na folha de pagamento do FBI como informante para dar informações sobre os movimentos da máfia italiana que atuava no sul de Boston, onde ambos, de origem irlandesa, cresceram. Bulger, até ali um criminoso de baixo escalão, enxerga nesta associação a oportunidade de ouro para liquidar seus maiores rivais, usando o FBI e corrompendo Connolly com presentes ricos.
 
Embora humanize o personagem, não se alivia o retrato de sua crueldade. Bonachão com seus vizinhos, carinhoso com sua mãe e o filho, ele era implacável na condução de seus negócios, que incluíam tráfico de drogas, extorsão e assassinatos, eventualmente matando desafetos com as próprias mãos, embora tivesse assassinos a seu serviço para as execuções. As vítimas terminavam enterradas sob uma ponte. Sua ousadia foi mais longe, envolvendo-se até no fornecimento de um grande lote de armas ao Exército Republicano Irlandês (IRA).
 
Uma ironia nesta história é o irmão de Bulger, William (Benedict Cumberbatch), um senador que não se envolvia com seus crimes, embora a longo prazo também tenha sido afetado por esta relação familiar. A dualidade desta situação, assim como outras nuances da cooperação duvidosa do gângster com as autoridades não é, porém, explorada de maneira mais aprofundada. Da mesma forma, por mais que se mencione o tipo de lealdade vigente entre os moradores do sul de Boston, a relação entre Bulger e Connolly parece mais embasada nos favores e presentes que o primeiro proporciona ao segundo. Ou seja, corrupção pura e simples.
 
Diretor em seu terceiro filme – os dois primeiros foram Coração Louco e Tudo por Justiça -, Scott Cooper ainda não tem a manha de um Martin Scorsese no retrato destes ambientes mafiosos. Scorsese, aliás, inspirou-se no mesmo “Whitey” Bulger para compor seu drama Os Infiltrados (06), que finalmente lhe deu o Oscar de melhor diretor.
 
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