Captar as nem tão novas, mas cada vez mais comuns relações familiares, dentro daquela clássica estrutura de “filme família”, é a virtude do mediano Pai em Dose Dupla (2015). Repetindo a parceria vista em Os Outros Caras (2010), os atores Will Farrell e Mark Wahlberg estão agora em lados opostos de uma disputa entre padrasto e pai biológico que caminha por clichês, estereótipos e convenções de comédias populares, com piadas boas e ruins. Porém, mais do que a dupla de estrelas, é o apelo de seu tema que já garantiu quase US$ 140 milhões em um mês em cartaz nos Estados Unidos.
Farrell encarna o pacato Brad, funcionário de uma rádio de jazz – algo usado aqui como mais um fator depreciativo da personalidade dele – que acabara de se casar com a bela Sara (Linda Cardellini, a Velma da versão de 2002 de Scooby-Doo, subutilizada como “prêmio” dos protagonistas, uma mulher sem tomada de decisão).
Após meses de desprezo por parte dos filhos de sua esposa, Brad parece estar perto de conquistar o apreço de Megan (Scarlett Estevez, servindo como um bom alívio cômico) e Dylan (Owen Vaccaro). Até porque, por ser considerado estéril, ele se desdobra no papel de paizão das crianças que considera como suas. Porém, quando o pai biológico delas, o forte, bonito, viajante e misterioso Dusty, vivido por Wahlberg, retorna aos EUA, seu progresso é interrompido para dar lugar a uma insana rivalidade entre os dois homens, disputando o posto de “macho alfa” da casa.
Com o cenário armado, não é preciso muito para saber que o esquema já conhecido das tramas em que uma competição de egos leva a muita confusão dará o tom do longa de Sean Anders, diretor de Quero Matar Meu Chefe 2 (2014) e roteirista de A Ressaca (2010), entre outros. À frente da direção e assinando o roteiro com seu velho parceiro de texto John Morris e Brian Burns, autor de alguns episódios da série Entourage (2004-2011), o realizador tem a principal falha de seu trabalho no script, que se arrasta na segunda parte do filme.
Tendo em mãos um Will mais controlado e um Mark abusando da sua imagem de valentão, Anders obtém melhores resultados quando aposta na comicidade de situações ilógicas do que no pastelão, em especial, o humor físico extrapolado. Exemplo é a presença de Griff (o comediante Hannibal Buress), um funcionário de uma empresa de reparos que acaba, do nada, convivendo diretamente com a família que, além de explorar certo comentário racial, participa de uma estranha discussão sobre o que seria melhor fazer no decorrer de uma cena.
É claro que, dentro de toda a estupidez do texto, algo se aproveita. Mas isso ocorre genuinamente quando Pai em Dose Dupla expõe e aumenta o ridículo das ações de quem está em situação familiar semelhante e, em particular, do comportamento masculino. Escancarando a fragilidade dessa imagem máscula, a comédia tem seus melhores momentos e encerra com uma última boa piada, quando a top model brasileira Alessandra Ambrósio vem dar o ar da graça.