25/04/2025

Doutora em física prestes a conseguir uma cátedra numa universidade de prestígio descobre, apavorada, que sua velha amiga Abby colocou na internet um antigo livro que as duas escreveram sobre fantasmas. Erin a procura para cuidar disso e acaba envolvendo-se com a velha paixão das duas por fenômenos sobrenaturais. As duas formam um time especializado em Nova York, ao lado da engenheira Jillian e da ex-funcionária do metrô Patty.

post-ex_7
Quando há algo de estranho na sua vizinhança da internet e uma legião de defensores de um sucesso oitentista ressurgem quando ousam fazer um reboot de seu clássico intocável, com tantos outros filmes icônicos sendo alvos da onda nostálgica de Hollywood, muitos deles descontentes pela nova versão trazer protagonistas feministas e a grande maioria censurando a nova produção apenas por um trailer fraco. Quem você vai chamar?
 
Antes de tudo, o bom senso de assistir primeiro a Caça-Fantasmas (2016) para tirar suas conclusões sobre a atualização da franquia cômica-sobrenatural e verificar que, embora mais inovador em sua proposta do que em sua estrutura, semelhante à de Os Caça-Fantasmas (1984) e sua sequência de 1989, o novo trabalho de Paul Feig mantém o espírito da série de Ivan Reitman em um clássico entretenimento de férias.
 
Após um básico prólogo fantasmagórico que abre todos os longas, o público é apresentado às novas personagens, como Erin Gilbert (Kristen Wiig, que trabalhou com o diretor em Missão Madrinha de Casamento), que se apavora quando descobre que voltou a circular um livro sobre a existência de fantasmas, que publicara há muito tempo com a então amiga Abby Yates (Melissa McCarthy, habitué nos filmes dele, como A Espiã Que Sabia de Menos). Doutora em física, Erin teme que o livro sobre este tema derrube sua ambição de conseguir um cargo permanente na universidade onde é professora.
 
Ao reencontrar Abby, Erin se envolve, a contragosto, em uma investigação sobre uma série de aparições fantasmagóricas em Nova York, junto com ela e a atual parceira de pesquisa de Abby, a engenheira Jillian Holtzmann (Kate McKinnon, do Saturday Night Live, cujas imitações mais conhecidas vão de Hillary Clinton a Justin Bieber). No meio do caminho, que, mesmo semelhante ao da história original, difere nos passos que percorrem até se encontrarem como equipe e no fato de o vilão ser um humano (Neil Casey), rejeitado assim como as protagonistas, elas conhecem a funcionária do metrô Patty Tolan (Leslie Jones, também do humorístico norte-americano, em seu primeiro papel de destaque). Com seu conhecimento sobre a cidade, Patty se junta ao time de caça-fantasmas, embora rejeitem este título no início.
 
Paul Feig, que já mostrou, em As Bem-Armadas (2013) e outros trabalhos que o protagonismo feminino na comédia, também misturada com ação, dá certo, tem a seu favor aqui um elenco afiado, repetindo a química especial que Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson mostraram três décadas atrás. Kristen faz uma boa parceria com Melissa, mas são suas colegas de Saturday Night Live, programa do qual também fez parte até 2014, quem roubam a cena ao lado de Chris Hemsworth, que se despe da imagem do super-heroi Thor para encarnar o belo e estúpido secretário Kevin – a entrevista de emprego dele é hilária e mostra o timing cômico do ator ao não se levar a sério. Se Leslie supera o estereótipo da sua personagem de “negra atrevida”, Kate se destaca com a loucura de Holtzmann e o empenho em construir novas armas.
 
Porém, o fã não precisa se preocupar, pois há, junto a várias citações de filmes, inúmeras referências ao original, que vão desde o icônico veículo Ecto-1 à música-tema de Ray Parker Jr., executada na forma clássica e também na versão repaginada por Fall Out Boy e Missy Elliot. Além disso, com exceção do falecido Harold Ramis, a quem a nova produção é dedicada, e do aposentado Rick Moranis, o elenco principal original faz rápidas participações – para ver todas, fique até o final dos créditos –, encarnando outros personagens, já que se trata de um reinício. Na realidade, ao repetir o erro comum desta atual leva de sequências e reboots nostálgicas, a homenagem se torna exagerada em certos momentos, impedindo que o roteiro de Feig e Katie Dippold siga seu novo enredo, cujo argumento é melhor do que o de Caça-Fantasmas 2.
 
A bem da verdade, para quem não tem memória afetiva da franquia, e que ao ver ou rever as películas anteriores poderá achá-las datadas, o novo longa pode ser mais engraçado e assustador, especialmente para as crianças que o assistirem em 3D. O uso da tecnologia no estilo mais histriônico, com elementos sendo “jogados” para fora da tela, combina com o tom da obra, na qual os efeitos especiais, mesmo que adaptados aos avanços do CGI atual, continuam com o colorido de antes. Só que o diretor, estreante em blockbusters, se encanta com este mundo mágico e exagera no “apocalipse fantasma”, no espalhafatoso e arrastado terceiro ato.
 
Esse é o trecho mais problemático do roteiro, que se entrega a clichês, às vezes de propósito, mas em outros momentos, como este, sem tato. Só que Feig e Dippold, também roteirista de As Bem-Armadas e da série Parks and Recreations (2009-2013), já nos envolveram antes com suas cativantes personagens e suas dificuldades para lidar neste novo trabalho – os diálogos soam mais científicos e há um cuidado em mostrar a criação de certos gadgets – para deixar um saldo positivo de diversão. No entanto, é na forma como o texto cutuca, aqui e ali, os detratores do filme, com a trajetória das personagens se confundindo com a da produção, redefinindo como o papel da mulher deve ser visto na sociedade e em Hollywood, sem ser ostensivo, que (As) Caça-Fantasmas acerta em cheio, fazendo alguns morderem a língua.
post