Existem aquelas produções que você não apenas prevê o que vem pela frente antes de assistir, como também sabe que está sendo manipulado durante sua exibição, mas, ainda assim, se deixa levar e tem uma experiência agradável. O açucarado filme-família Little Boy: Além do Impossível, de Alejandro Gómez Monteverde, se encaixa nesta categoria por surpreender ligeiramente dentro de sua proposta de ser um drama de guerra com viés cristão, apesar de suas claras limitações.
A coprodução entre México e Estados Unidos, porém, é um filme hollywoodiano à primeira vista, nos moldes de longas do gênero da Disney. Vide seu protagonista, o pequenino Pepper Busbee (Jakob Salvati, da série Red Widow, que entrega uma performance honesta e cativante), cuja baixa estatura o tornou o alvo preferido do bullying das crianças da pequena e fictícia cidade costeira de O’Hare, no auge da Segunda Guerra Mundial. Tendo como único amigo seu pai, ele fica arrasado quando James Busbee (Michael Rapaport, de As Bem-Armadas) se alista, no lugar do filho mais velho, London (David Henrie, de Os Feiticeiros de Waverly Place), para defender o país no conflito.
Desejando muito o retorno de seu pai, o menino se agarra nos poderes que lhe foram conferidos pelo mágico Ben Eagle (Ben Chaplin) e na lista de tarefas dada pelo padre Oliver (Tom Wilkinson), que inclui uma lição de tolerância ao incluir sua aproximação com o sr. Hashimoto (Cary-Hiroyuki Tagawa), um japonês rejeitado pela população local por sua origem inimiga, apesar de já morar há décadas nos EUA. É nisto que ele deposita toda a sua fé de que trará o combatente de volta para casa. Entre as figuras conhecidas do elenco, também figuram Emily Watson, subaproveitada como a mãe do garoto, e Kevin James, atuando em um papel diferente como um médico viúvo.
Contudo, o DNA mexicano se faz presente em seus aspectos técnicos – que são bem-realizados, é bom frisar –, especialmente em sua carga dramática que ainda é elevada em um final manipulativo, mas não necessariamente surpreendente do roteiro de Monteverde e Pepe Portillo. Na fotografia de Andrew Cadelago, por exemplo, há um leve exagero na paleta de cores amarela, uma frequente escolha visual de filmes de época ambientados entre os anos 40 e 50, e na suavidade de foco que conferem um ar onírico a algumas cenas, que não se tornam um demérito pelo tom fabular da história. Mesmo com essa licença, ou justamente por causa dela, o diretor de Bella (2006) peca ao não confiar na inteligência do espectador e trabalhar algumas ideias de maneira mais sutil.
Ainda assim, por ser um filme essencialmente cristão, apesar de não se vender como um, é interessante como questões religiosas, em particular os pretensos “milagres”, são tratados em Little Boy com um olhar mais cético e lógico sobre o fantástico, sem desmerecer a fé de seu protagonista. Por mais que sucumba à tentação de panfletar seu discurso, que tem em sua moral questões importantes e sempre atuais como a da tolerância, Alejandro não submete a narrativa completamente a ele, um erro muito comum em produções gospel. No entanto, o maior acerto e legado de sua obra é abordar um assunto não muito discutido e cada vez mais pertinente, ao trazer à tona o aprisionamento realizado pelos EUA de japoneses e descendentes que moravam no país durante os terríveis anos da II Guerra.