Dirigido pelo diretor americano Richard Linklater (de Antes do Amanhecer), trata-se, antes de mais nada, de uma notável realização técnica, já que Linklater fez dois filmes em um, ou seja, primeiro filmou seus atores com equipamento digital, depois passou o copião para o animador e diretor de arte Bob Sabiston, cuja equipe de 30 artistas recobriu cada imagem através da computação gráfica - por meio de um então novíssimo programa computadorizado de transformação das imagens, chamado de "rotoscopia interpolada". Essa passagem foi uma tarefa do maior fôlego, já que cada minuto final da película, de 97 minutos de duração, requereu 250 horas de trabalho de animação.
Excepcional na parte técnica, o filme ressente-se, porém, de um maior refinamento do roteiro. O enredo gira em torno de um jovem (voz de Wiley Wiggins) que não consegue acordar de um sonho e tem longas conversas sobre os vários estados da consciência e discussões filosóficas e religiosas com os mais diversos personagens. Alguns deles são facilmente reconhecíveis, como o cineasta Steven Soderbergh e os atores Julie Delpy e Ethan Hawke (os protagonistas de Antes do Amanhecer). Mas há dezenas de outros, em cenários que variam muito, com diálogos que giram em torno de filosofia, arte, sociedade, sentido da vida e muitas outras coisas. Tanta conversa e, por vezes, tão complexa é que parece não caber com precisão neste formato de filme e, por vezes, fica tediosa, embora as imagens sejam realmente magníficas, com aspecto de pinturas em movimento.
Exibido em 2001 em festivais como Sundance e Veneza (onde fez parte da competição oficial), Waking Life foi escolhido como o melhor filme experimental de 2001 pela National Society of Film Critics e melhor desenho animado pelo New York Film Critics Circle. Além disso, figurou entre os nove concorrentes às três vagas da competição pelo novo Oscar de animação, mas ficou de fora da seleção final.
Cineweb-12/4/2002
