21/03/2025
Drama Comédia

Negócio das Arábias

Um executivo de uma empresa de tecnologia da informação viaja até a Arábia Saudita para participar de uma concorrência para oferecer hologramas para o rei local. Porém, ao enfrentar diversos problemas – desde jet lag a um caroço que aparece em suas costas –, ele tem a chance de repensar sua vida.

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Parafraseando a letra de Once in a Lifetime, dos Talking Heads, declamada por Tom Hanks na abertura de Negócio das Arábias, você pode se encontrar num cinema escuro. E você pode se encontrar arrependido por ter escolhido ver esse filme, e se ver querendo sair da sala. E você pode se perguntar: Bem... como eu vim parar aqui? É uma boa pergunta que até Hanks deve ter se feito – nem que seja lá no seu íntimo sem revelar a ninguém – a respeito desse filme dirigido pelo alemão Tom Tykwer.
 
Tykwer ficou mundialmente famoso em 1998, com Corra, Lola, Corra, seu terceiro longa, e nunca mais acertou. Sua lista de erros inclui produções de prestígio como O Perfume e A Viagem (codirigido pelos irmãos Wachowski). Baseado no romance Um Holograma para o Rei (um título bem mais intrigante e chamativo do que esse que arrumaram no Brasil), de David Eggers, Negócio das Arábias acompanha um executivo da indústria da informática que vai até a Arábia Saudita para apresentar o projeto de um holograma para a majestade local.
 
O tema, a priori, é o choque de culturas que causaria estranhamento e faria Alan Clay (Hanks) amadurecer. E é, basicamente, isso o que Tykwer e o ator fazem, o que é bem pouco quando se vê na tela. A mencionada abertura é o que há de mais sagaz e cínico, parecendo indicar uma comédia mais ousada do que o restante do filme.
 
Clay chega à Arábia Saudita, sofre com o calor, sofre com o jet lag, sofre para se comunicar, sofre por ficar esperando dias para ser recebido pelo rei, e sofre ainda mais quando descobre um caroço em suas costas. Num cenário cercado de areia, sua pequena equipe está alojada numa tenda rústica, onde nem o wi-fi funciona direito, próximo ao futuro complexo industrial, cultural e administrativo em construção. Hanks anda de um lado para outro, em seu traje de executivo, coberto de areia e à espera de ser atendido por alguém da comitiva real.
 
O melhor personagem aqui é Yousef (Alexander Black), motorista a quem Clay recorre todas as vezes que acorda atrasado e perde o ônibus, ou seja, todo dia. É um alívio cômico para o excesso de bom-mocismo que, por tabela, se associa aos personagens de Hanks. Há também uma funcionária da embaixada dinamarquesa – interpretada por Sidse Babett Knudsen – que oferece bebida e uma orgia ao protagonista – ele aceita a primeira, e declina da segunda.
 
Seria A Morte do Caixeiro Viajante para o século XXI, num cenário de globalização e com o centro do capital em direção ao Oriente Médio, mas Tykwer está preocupado demais em gracinhas – Clay cai de todas as cadeiras em que se senta! – e momentos lacrimosos (o personagem aceita esse trabalho porque é a última esperança de conseguir dinheiro para pagar a faculdade da filha), ou um romance sem sal, quando o protagonista conhece uma médica interpretada por Sarita Choudhury. Em Negócio das Arábias, o personagem de Hanks passa 90 minutos à espera do rei. O público, por sua vez, espera 90 minutos para o filme realmente começar. Mas, veja, a duração é de 98 minutos – incluindo os créditos finais. 
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