21/03/2025
Suspense Ação

Inferno

O simbologista Robert Langdon acorda num hospital italiano sem memórias. Para tentar recuperar suas lembranças, contará com a ajuda de uma médica, ao mesmo tempo em que tentam evitar uma tragédia mundial.

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No fim do século XVIII, o clérigo britânico Thomas Malthus percebeu que o crescimento populacional ocorria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos aumentava em progressão aritmética – ou seja, a população crescia mais rapidamente que os suprimentos necessários para sua sobrevivência, o que poderia levar a um esgotamento de recursos, fome e pobreza, se as guerras e as pestes não contribuíssem para a contenção demográfica.
 
Incrivelmente, Robert Langdon, em toda a conhecida verborragia histórica do personagem criado pelo escritor Dan Brown e interpretado no cinema por Tom Hanks, não chega a citar esse tema básico de vestibular em Inferno, apesar de tentar parar os planos de um vilão que claramente foi influenciado pela teoria malthusiana.
 
O algoz da vez é o gênio bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster), que alerta para os perigos da superpopulação para a humanidade e defende formas drásticas de conter este crescimento. Mesmo morto, ele continua a aterrorizar o mundo com um vírus devastador que desenvolveu e está prestes a ser liberado. Uma catástrofe mundial que só pode ser evitada pelo famoso criptologista, é claro, mesmo que este não possa confiar tanto em sua própria memória.
 
O professor Langdon acorda em um hospital em Florença, na Itália – principal cenário da ação, que também se passa em Istambul, na Turquia –, sem saber como foi parar lá. Após ser vítima de um novo atentado, ele é acompanhado pela médica que o atendeu, Dra. Sienna Brooks (Felicity Jones), para esclarecer o que aconteceu com ele nas últimas 48 horas. Ele tem visões perturbadoras visões e não sabe o paradeiro de um saco que contém o vírus. A chave para o enigma está entre versos de Dante e as pinceladas de Boticelli e Vasari, em suas representações do Inferno. São claras referências renascentistas sobre a Peste Negra que antecedeu este período florescente na Europa.
 
Dez anos depois do lançamento de O Código Da Vinci, o cineasta Ron Howard continua à frente da franquia baseada nos best-sellers de Dan Brown, mantendo a mesma fórmula de mistério com elementos de História, especialmente da Arte, simbologias e teorias da conspiração. Desta vez, a Igreja Católica foi deixada de lado. A bem da verdade, este terceiro longa é umajunção da estrutura de ambos os filmes anteriores: a perseguição ao protagonista em fuga enquanto tenta solucionar o mistério, vista no primeiro, com a corrida contra o tempo do urgente Anjos e Demônios (2009). Uma qualidade que a sequência atual tenta obter por meio da fotografia de Salvatore Totino, mas sem ter apoio do roteiro, da direção e dos efeitos especiais, mais grandiosos, porém mal acabados e ineficientes.
 
Com um final diferente da novela de origem, o script de David Koepp recorre a clichês que recaem em problemas de representação de gênero e raça. Porém, a falha mais sensível do roteiro está na sua capacidade de desenvolver as revelações, tão comuns na trilogia, das reais motivações de cada personagem de um modo surpreendente. Até para os mais distraídos, que provavelmente ficaram mais surpresos pelas narrativas anteriores, em particular a segunda, os plot twists não geram tanto efeito. Por isso, em um elenco que também conta com bons nomes, como Omar Sy e Sidse Babett Knudsen, poucos são os papéis cativantes ao público; o cinismo e a retórica empregados por Irrfan Khan em Harry Sims fazem dele o tipo mais interessante.
 
Em um filme que mal permite ao espectador ter a chance de decifrar um mínimo detalhe por conta própria, apesar de repetir várias vezes o lema cerca trova (do italiano, procure e encontre), por mais que este busque, não há muito o que encontrar, além de um entretenimento fugaz, mas atrativo o suficiente. À plateia, caberá descobrir o paradeiro do esquecido Ignazio Busoni (Cesare Cremonini) e o legado da franquia, que tem o mérito, pelo menos, de gerar interesse pela História e alimentar a curiosidade pelo conhecimento.

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