Se o primeiro filme da série John Wick, De volta ao jogo, foi um sucesso de bilheteria inesperado em 2014, o segundo longa é feito exatamente na medida para solidificar uma franquia protagonizada por uma espécie de 007 sob influência de speed, ou outra droga qualquer que eleve os níveis de energia. Keanu Reeves volta como o atormentado assassino profissional obrigado a sair da reclusão por conta de uma promissória.
Antes, ele abandonara a aposentadoria porque o filho de um mafioso eslavo roubou seu carro Vintage e matou seu cachorro, um presente de sua mulher, que morrera de causas naturais. John Wick: Um novo dia para matar – novamente dirigido pelo ex-dublê de Matrix Chad Stahelski – começa com um prólogo de 15 minutos no qual Wick recupera seu carro e mata dezenas no meio do caminho.
Para sair de uma organização de assassinos, o que é de se imaginar não seja uma tarefa simples, Wick precisou entregar uma “promissória” (no formato de moeda de metal). Agora, de posse desta, Santino D’Antonio (Riccardo Scamarcio) o convoca para matar sua irmã mais velha (Claudia Gerini), que acaba de assumir o lugar do pai que morreu, num grupo que reúne a cúpula da máfia do mundo todo. Não aceitar a missão, para o protagonista, significa ser morto; aceitar também pode ter o mesmo significado.
Quando Wick vai para Roma, descobre-se que a fraternidade de assassinos tem filiais por todos os cantos – assim como os mais inesperados representantes. Matar a italiana é o menor dos problemas para o protagonista, cuja vida se complica quando D’Antonio coloca a cabeça do assassino a prêmio, através de um chamado que chega ao celular de todos os assassinos do mundo.
O roteiro de Derek Kolstad – o mesmo roteirista do filme original – cria uma intrincada mitologia sobre a organização dos assassinos e suas regras de conduta. Todo mundo que aparece em cena está, de uma forma ou de outra, ligado ao grupo, ainda que seja em tarefas inusitadas – há o alfaiate que cria ternos à prova de bala, ou o sommelier, cuja adega conta com mais armas do que garrafas de vinho.
John Wick: Um novo dia para matar é um filme que não se leva a sério – e isso, ao lado das sequências de tiroteio e luta corporal, é uma de suas grandes qualidades. Ajudam muito também os floreios visuais aos quais o diretor é dado. Muito neon, muitos tons de azul e um clímax numa sala de espelhos são alguns dos elementos que mais chamam a atenção neste aspecto. Com tudo no lugar – cinismo, sangue, tiros, pancadas e humor –, o segundo filme mostra que esta é uma franquia que veio para ficar, como fica bem claro pelo gancho final.