O brasileiro O Crime na Gávea talvez seja mais notório por sua leve polêmica extrafilme do que pelo longa em si. Seu roteirista, produtor – e autor do romance original – , o novelista Marcílio Moraes (Roque Santeiro, Ribeirão do Tempo), requisitou para si o termo “Um filme de...” – isso costuma vir seguido do nome do diretor (neste caso, André Warwar), mas aqui é diferente. “Também sou o produtor. O romance no qual o filme é baseado é meu. Terminadas as filmagens, meus sócios e eu assumimos o controle. Cuidamos da pós-produção, da montagem e da trilha sonora. O corte final é meu. Isso tudo, claro, sem prejudicar o trabalho do André, que ficou mais responsável pela direção do set”, disse Moraes ao jornal O Globo.
Dessa forma, então, a culpa do resultado final do longa deve recair sobre Moraes, embora as escolhas de Warwar também pesem. A questão central da trama já está dada no título, e o que se segue são duas investigações – uma oficial pela polícia, e outra pelo marido da vítima, Paulo (Ricardo Duque).
Ao chegar em casa, ele encontra sua mulher, Fabiana (Aline Fanju), assassinada, e a filha de 3 anos ao lado do cadáver sem qualquer lesão. A investigação policial esbarra numa série de empecilhos – entre eles, Paulo precisa mentir, pois estava com sua amante, Elisa (Simone Spoladore). O que segue é um quebra-cabeça com uma narração em off um tanto desnecessária, repleta de frases de efeito, como “o olhar da montanha caiu sobre mim... Cruel. Na hora não percebi, mas hoje sei que foi uma revelação”. E há também citações de Heráclito, como explicitam os créditos finais.
Segredos, mentiras e meias-verdades, como é comum no gênero policial, limitam as investigações, levam a conclusões erradas e precipitadas etc. Há uma espécie de ruído sonoro – talvez seja exagero chamar de trilha, em alguns momentos – que acompanha o filme em sua quase totalidade. A ideia parece ser de criar um clima, de estabelecer suspense, mas o tiro sai pela culatra, porque o barulho irrita e desconcentra do foco do que está acontecendo aos personagens.
Com uma fotografia em tons escuros, há imagens sombrias de natureza – montanhas, flores, Pedra da Gávea e afins –, tudo no sentido de ajudar a criar um clima noir, mas que não se sustenta muito com uma trama tão frágil e pouco inventiva e personagens calcados em chavões.