Através de uma amiga, Mae consegue um emprego numa promissora empresa de internet, chamada O Círculo. Lá, ela tem grandes oportunidades, mas começa a perder toda sua chance de individualidade. O maior perigo é quando aceita tornar-se cobaia de um experimento bolado por seu chefe, que inclui que ela use o tempo todo uma microcâmera colada ao seu corpo.
- Por Neusa Barbosa
- 08/06/2017
- Tempo de leitura 3 minutos
O suspense/ficção científica O Círculo é um filme para os tempos atuais – hiperconectado, hiperativo, abordando uma companhia de internet que ameaça espalhar seus tentáculos de modo a tomar conta de todos os aspectos da vida das pessoas.
Partindo de um livro do também roteirista Dave Eggers, que assina este roteiro ao lado do cineasta James Ponsoldt, O Círculo começa promissor, dando a impressão de que vai colocar devidamente em discussão alguns dos aspectos mais assustadores da nossa vida já ultraconectada. Ou seja, a super-exposição, a ultravigilância, o fim da intimidade, as inúmeras possibilidades de os dados referentes às pessoas de todo o mundo caírem nas mãos de uma única empresa que se dedique a manipulá-los em proveito do próprio lucro.
A paranoia tem um rosto paternal e atende pelo nome de Eamon Bailey (Tom Hanks), um dos fundadores da companhia de internet O Círculo, ao lado de Tom Stenton (Patton Oswalt). É justamente o jeito bonachão de Bailey que o torna tão irresistível, transformando suas palestras motivacionais na empresa que dirige em verdadeiros shows, estimulando os jovens funcionários a aderirem a uma rotina que, na verdade, não lhes permite qualquer discordância ou mesmo individualidade. O “Grande Irmão” citado pelo escritor George Orwell em seu profético livro 1984 mora aqui, nesta empresa, em que os funcionários são levados a transformar sua presença nas mídias sociais em parte indissociável de seu trabalho. Além disso, são sutilmente pressionados a passarem boa parte de seu tempo livre nas dependências da firma, em festas de confraternização no ambiente, que parece um campus universitário, coberto de gramados e lagos artificiais e em que a visão de drones é uma constante.
Cai neste universo uma novata, a jovem Mae Holland (Emma Watson), trazida pela amiga, Annie (Karen Gillan). Do dia para a noite, Mae troca uma vida opaca, de tédio num trabalho burocrático, pela de alguém que sente que ganhou lugar num paraíso de oportunidades. Ela acaba cooptada pelo chefão Bailey para tornar-se garota-propaganda de sua mais recente invenção: a câmera Seechange, que é de tamanho diminuto, pode ser colocada em todos os locais e permite o que Bailey chama de “transparência total”. “Saber é bom mas saber tudo é melhor”, defende o chefe, que convence Mae a usar uma câmera dessas em tempo integral.
Justamente no segmento em que se manifesta o grande conflito de que a história teria que tratar com contornos mais dramáticos é que o filme falha fragorosamente. Mal-desenvolvida, a personagem de Emma Watson nunca convence em suas atitudes oscilantes, especialmente em relação aos pais (Glenne Headley e Bill Paxton) e ao antigo namorado e amigo, Mercer (Ellar Coltrane). Igualmente abaixo de seu potencial é o personagem Ty (John Boyega), o programador que criou a ideia inicial da empresa cibernética e cujo aparecimento deveria deflagrar bem maiores tensões.
Sintetizando, O Círculo é o filme sobre o tema certo, o mais urgente para os dias atuais, mas passa longe de aprofundar os seus principais aspectos.