Em 2049, o policial androide KD 6 - 3.7 é o encarregado de caçar e eliminar androides do velho modelo fabricado pela falida indústria Tyrell, que eram capazes de rebelar-se. Ao matar um deles, encontra-se em sua propriedade, enterrado sob uma árvore, um esqueleto feminino. Este é a perturbadora pista de que uma androide pode ter dado à luz a um filho.
- Por Neusa Barbosa
- 19/09/2017
- Tempo de leitura 3 minutos
Depois de escapar incólume à febre de sequências e prequels que assolou vários gêneros, inclusive a ficção científica, Blade Runner – O Caçador de Androides (1982), o clássico cult de Ridley Scott, ganhou uma continuação. Com Scott pilotando na produção executiva e direção do canadense Denis Villeneuve, Blade Runner 2049 mostra suas credenciais, não economizando na duração, generosos 163 minutos.
Villeneuve, que já havia mostrado afinidade para o gênero no celebrado A Chegada (2016), mostra-se o regista adequado a conduzir uma história que presta homenagem ao original, permitindo-se encontrar sua própria batida e energia ao longo do caminho.
É na mesma Los Angeles chuvosa, mas agora invernal a ponto de receber rajadas de neve, 30 anos depois do enredo do filme original, que se ambienta a nova versão. Mais uma vez, há um policial a caçar androides, desta vez atendendo pela sigla KD 6 – 3.7 (Ryan Gosling). Sua missão: eliminar os androides do velho modelo, capazes de liderar rebeliões, que possam ter escapado. Ele mesmo pertence à nova geração de androides dóceis e funcionais, agora fabricados pelo industrial Wallace (Jared Leto).
A novidade, no roteiro de Hampton Fancher e Michael Green, é imaginar a perturbadora possibilidade de que pelo menos uma androide possa ter dado à luz a um filho – e esse é o ponto de partida que se esboça na primeira missão de K, em sua perseguição a um androide da velha guarda, Sapper Morton (Dave Bautista), em cuja propriedade encontra-se um esqueleto enterrado.
A descoberta põe em polvorosa a chefe de K, a tenente Joshi (Robin Wright), e o próprio Wallace, através de sua fiel escudeira androide, Luv (Sylvia Loecks) – se bem que por razões diferentes. Joshi quer que K localize e mate o quanto antes o suposto filho da androide; Wallace, ao contrário, parece fascinado pela captura deste espécime especial, colocando Luv na espionagem aos movimentos do policial.
Contando com um visual excepcional (direção de arte de Tibor Lázár e Paul Inglis), fotografia de Roger Deakins e montagem de Joe Walker, Villeneuve mantém o controle do ritmo e da temperatura dramática de uma história que escava a dimensão existencial do protagonista – que passa a acreditar que ele mesmo é o filho perdido da androide e, por isso, passível de caça e de morte.
A solidão de K é quebrada apenas por uma companhia virtual, Joi (a cubana Ana de Armas), uma espécie de mulher holográfica a que recursos como um “emanador” eventualmente podem dar corpo – num fascinante avanço em relação à história original.
Uma hora e quarenta e cinco minutos se passam até que ressurja em cena o bom e velho Rick Deckard (Harrison Ford) – bem de acordo com sua natureza de personagem do passado, no cenário nostálgico de um velho hotel abandonado e assombrado por imagens de Frank Sinatra, Elvis Presley e Marilyn Monroe. Com um visual e um enredo envolventes, Villeneuve consegue a façanha de realizar um filme à altura da mágica do original.
Indicado a três Oscar técnicos, venceu em duas categorias: fotografia (finalmente tirando da fila o veterano Roger Deakins, em sua 14a. indicação) e efeitos visuais.