18/04/2025
Drama

A melhor escolha

Quando o filho de Doc morre em combate no Iraque, ele pretende enterrar o corpo do rapaz no mesmo cemitério onde está a mãe dele. Sem parentes, ele pede a ajuda de dois antigos amigos que conheceu na Guerra do Vietnã.

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Em A melhor escolha, Richard Linklater deixa de lado projetos mais experimentais – como Boyhood, O homem duplo e a trilogia Antes do amanhecer – e investe numa história mais convencional, na qual a performance do trio central é o que há de mais impressionante. O filme é, de certa forma, uma continuação (espiritual, como define o diretor) de A última missão, de Hal Ashby, de 1973. Os mesmos personagens – lá interpretados por Jack Nicholson, Randy Quaid e Otis Young – são retomados aqui por Bryan Cranston, Steve Carell e Laurence Fishburne.
 
Eles são três ex-fuzileiros navais que estiveram juntos na Guerra do Vietnã e não se veem há algumas décadas. Larry (Carell), outrora conhecido como Doc, procura Sal (Cranston) em seu bar, e custa um pouco para ele reconhecer o amigo. Juntos, vão à igreja de Richard Mueller (Fishburne), que agora se tornou um pastor. Só aí Larry revela o motivo de seu retorno: seu filho, também fuzileiro naval, acaba de morrer numa missão no Iraque e sua mulher morreu, vítima do câncer, há algum tempo. Em outras palavras, ele está sozinho no mundo e precisa de companhia para ir ao cemitério de Arlington para enterrar o filho.
 
É uma missão profundamente triste e pessoal, que sozinho ele não conseguirá cumprir. Trabalhando com um roteiro dele e de Darryl Ponicsan (autor dos livros que originaram os dois filmes), Linklater cria um road movie sobre homens expressando seus sentimentos.
 
Os problemas começam quando Larry vai ao encontro do corpo de seu filho, velado com honras de herói, e fica claro que a morte do rapaz não aconteceu como relatada pelos superiores. Ao descobrir que foi vítima de uma mentira dos militares, o protagonista decide que não enterrará o filho em Arlington, o cemitério tradicional militar, mas ao lado de sua mulher, em New Hampshire.
 
Não é uma tarefa simples e o coronel (Yul Vazquez), responsável pelo corpo do rapaz não irá facilitar nada para Larry e sua dupla de amigos, obrigando um outro fuzileiro (J. Quinton Johnson) a acompanhá-los, passando instruções claras sobre como conduzir o enterro.
 
Linklater arma diversas armadilhas com essa história, das quais ele se desvia com segurança e honestidade. Muito, é claro, deve-se à interpretação sincera do trio de protagonistas. Carell fala pouco e, quando fala, é capaz de fazer chorar, sem forçar numa emoção barata. Sua história é triste por si, não é preciso pesar a mão, e seu olhar, quase sempre à beira do pranto, é comovente.
 
Cranston transita entre o alívio cômico cínico e a solidariedade com o amigo, assim como Fishburne, cujo personagem crê que não deveria estar nessa missão, mas também não vê como abandonar os outros dois. Essa é uma história sobre pessoas tentando fazer as pazes com feridas recentes e antigas, para poder, de uma forma ou de outra, seguir em frente.
 
A melhor escolha também poderia, facilmente, cair num patriotismo enfadonho, exaltando o espírito americano, mas Linklater segue em outra direção: seus questionamentos são sobre a legitimidade de levar jovens para o centro de um conflito que não lhes diz respeito. Dessa forma, o filme também ecoa o Vietnã (e o outro longa), investigando as motivações e mentiras que unem os dois conflitos. Combinando momentos de melancolia, questionamento e humor (as cenas envolvendo celulares, uma novidade do momento – a trama se passa em 2003 – são hilárias), o cineasta explora uma temática constante em seu país.
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