Desde seu longa de estreia, o documentário Ônibus 174 (2002), José Padilha se pretendeu um cineasta antenado com os temas sociais. Enquanto esteve no documentário, não andou mal, como foi o caso dos contundentes Garapa (2009) e Segredos da Tribo (2010) – ainda que ali já parecesse insinuar-se um ligeiro viés sensacionalista.
Suas limitações, enquanto cineasta e roteirista, começaram com a passagem à ficção. O sucesso estrondoso de Tropa de Elite (2007) parece ter empolgado Padilha ao ponto de arvorar-se em intérprete de realidades sociais complexas – algo como um Constantin Costa-Gavras ou Paul Greengrass tupiniquim. O êxito comercial de Tropa... – que foi acompanhado de consagração crítica ao vencer o Urso de Ouro em Berlim 2008 - foi, portanto, mau conselheiro, quem sabe combinando-se a uma alta dose de oportunismo, já que não foi devidamente acompanhado de um desejável aprofundamento no contraditório inevitável da vida real.
Com sua carreira internacional deslanchada, a bordo de filmes como a nova versão de RoboCop (2014), Padilha agora se dedica também a projetos multinacionais, como este seu novo 7 Dias em Entebbe, uma coprodução britânico-americana, deixando ao menos temporariamente de lado um voluntarismo imediatista diante da realidade brasileiro que já fez suficientes estragos (caso da série O Mecanismo).
Como o título indica, 7 Dias em Entebbe revisita o dramático sequestro de um avião da Air France em 1976, com dezenas de passageiros judeus a bordo, que foi desviado para Uganda, tornando-se objeto de um ousado resgate por parte de tropas de elite israelenses. Uma complicada equação política estava por trás do sequestro, que uniu militantes do grupo alemão Baader-Meinhof a defensores da causa palestina, que pretendiam, em troca dos reféns, liberar seus prisioneiros dos cárceres israelenses.
Dois destes alemães, Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike) e Wilfried Böse (Daniel Brühl), são particularmente individualizados entre o comando sequestrador, assim como alguns passageiros, caso do co-piloto francês Jacques LeMoine (Denis Ménochet). A ação é acompanhada em dois focos – no hangar africano onde os passageiros são alojados e no gabinete em Israel, onde medem forças o primeiro-ministro Ytzhak Rabin (Lior Ashkenazi) e o ministro da defesa Shimon Peres (Eddie Marsan).
Curiosamente, gasta-se a maior parte da energia do filme no retrato das deploráveis condições dos reféns, em alto risco de vida – mostrando-se um pingo de empatia pelo idealismo desvirtuado de Brigitte e Wilfried – do que no resgate propriamente dito, que é sintomaticamente anticlimático. Evidentemente, a esta altura, sabe-se o resultado da operação, que teve grande sucesso, embora não se tenha podido evitar algumas mortes. Um maior tempo de cenas desse resgate espetacular acabam fazendo falta num filme que se pretende como suspense político – e talvez fosse o caso de dedicar menos tempo de tela aos debates dentro do gabinete israelense.