Não é fácil adaptar uma peça para o cinema, ainda mais quando se tem Querida mamãe, que, em cena, apenas duas figuras, mãe e filha – aqui, interpretadas por Selma Egrei e Letícia Sabatella. O texto de Maria Adelaide Amaral, de 1994, é expandido em suas situações e personagens, nem sempre bem resolvidos.
Ao centro do filme, dirigido por Jeremias Moreira, está uma relação tensa e complicada entre Ruth e Helô. Ao longo dos anos farpas e abraços foram trocados, mas agora as duas estão em momentos limítrofes de suas vidas – o que o longa transforma em gritarias infinitas, até cenas que não as pedem terminam em alguém berrando com outra pessoa.
Traduzir tensão em gritaria parece uma saída fácil para Querida mamãe, que vai perdendo a força da peça em sua adição de personagens e subtramas. O texto da dramaturga transitava entre a rivalidade e a ternura, os tapas e os beijos, entre o explícito e o sutil – aqui, esse segundo elemento está de fora. Tudo fica mais complicado para as personagens quando Helô, vivendo um casamento complicado (o marido é interpretado por Marat Descartes), se apaixona por uma artistas plástica – vivida por Claudia Missura. Sua mãe e sua filha (Bruna Carvalho) são contra a relação.
Sabatella tem uma personagem com mais nuances, e consegue tirar algum proveito disso, embora nem sempre o filme ajude. Egrei, sempre uma grande atriz, se esforça, mas sua personagem é um tanto ingrata, especialmente em seu boicote em relação à filha. O problema central aqui está na forma como o roteiro, assinado por Jaqueline Vargas, amplia o original, esvaziando sua potencialidade dramática. A questão da incomunicabilidade e choque de gerações – as forças motoras da trama – pendem para o óbvio, mas alguns diálogos são inspirados, como quando Helô conta para a mãe como e a relação com outra mulher, e as duas acabem esmiuçando suas respectivas vidas amorosas.