17/04/2025

Pierre Mazard é um catedrático de Direito que espezinha os alunos com seus comentários politicamente incorretos. Quando chega à classe a caloura Neila, moradora de subúrbio e de origem árabe, torna-se alvo de seus comentários ácidos. Depois, para evitar ser punido pela direção da escola, o professor é obrigado a convencê-la a deixar-se treinar por ele para um concurso de retórica entre faculdades.

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A atriz Camélia Jordana ganhou o César de melhor revelação feminina 2018 por sua atuação na comédia dramática O Orgulho. Dirigido por Yvan Attal – também ator e companheiro de Charlotte Gainsbourg -, o filme extrai sua eletricidade do conflito entre uma caloura de direito de origem árabe, Neila Salah (Camélia Jordana), e um catedrático, Pierre Mazard (Daniel Auteuil), cujas tiradas politicamente incorretas o estão transformando, rapidamente, num problema para a tradicional universidade Panthéon-Assas, em Paris.
 

 

O roteiro, escrito por Attal e três parceiros – Yaël Langmann, Victor Saint Macary e Noé Debré -, frisa a dificuldade de integração da recém-chegada jovem de origem árabe, moradora de subúrbio, numa faculdade de elite. Ainda mais tendo pela frente um professor esnobe e saudosista de uma velha França monocultural que talvez nunca tenha existido.

 

Na França real e multiétnica, de diferentes classes sociais, Neila luta por seu lugar, duramente conquistado. Assim, não engole em seco quando é transformada em alvo pelo professor, quando chega atrasada no primeiro dia de aula. As ironias sócio-raciais do professor para com Neila são filmadas pelos celulares de vários colegas e chegam às redes sociais. Assim, ele é chamado às falas pelo reitor (Grégoire Viviani), até porque é reincidente – por mais que Mazard insista que é apenas uma “provocação”.

A saída encontrada para que não seja punido é aproximar-se de Neila, convencendo-a a aceitá-lo como seu preparador num concurso de retórica, como representante da universidade. Tarefa difícil, não só porque Neila nem tinha se candidatado, como alimenta um profundo e natural rancor pelo professor que a fez pagar mico na frente de toda a classe logo no primeiro dia. Mas Neila tem um caráter aguerrido e assume a coisa toda como um desafio pessoal.
 
Por mais que esta convivência forçada entre opostos remeta a inúmeros filmes, hollywoodianos ou não, O Orgulho cumpre bem seu papel de cutucar as consciências com um mínimo de sensibilidade para discriminações de gênero, etnia, cultura ou classe, plantando em seu centro um ringue muito apropriado para que inúmeras questões candentes da sociedade francesa ali se encarem. O enfrentamento entre Neila e Pierre é desigual mas ele está, genuinamente, lhe fornecendo armas para fortalecer-se nesta luta – e, neste sentido, está cumprindo à risca o seu papel de professor, embora recorra a métodos um tanto agressivos e provocativos, que traem uma postura aristocrática.
 
Mas a grande joia deste embate está nesta dupla de atores principais. A novata Camélia Jordana brilha na energia às vezes um tanto desordenada de sua personagem, evocando a sinceridade de seu esforço descomunal para vencer desvantagens de origem. E o veterano Daniel Auteuil gasta seus muitos recursos a serviço de um personagem que nunca procura simpatia, nem terá, felizmente, uma redenção hollywoodiana que apare todas as suas múltiplas arestas.
 
Um bom desenvolvimento do roteiro está na maneira como lida com a estranheza que Neila passa a sentir em relação ao seu entorno – família, subúrbio, amigos, namorado (Yasin Houicha). Nessa parte, em que se poderia ter arruinado tudo com soluções facilitadoras, a história tem um bom desfecho, sem trair a personagem.
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