Uma das primeiras cenas de Uma casa de verão é excelente. Uma diretora e roteirista vai a uma reunião com possíveis investidores – no mundo do cinema, isso é chamado de pitching –, onde apresentará o seu projeto e tentará vender a ideia. Logo de cara, alguém objeta: “Você sabe que o roteiro de seu filme é frágil, não?”. Ora, em seus três longas de ficção, a diretora e roteirista Valeria Bruni Tedeschi recebeu exatamente essa crítica, por isso, parece que aqui – ela também interpreta a diretora – ela vai brincar com isso e seu roteiro será mais forte.
Ledo engano. A cena serve para ludibriar, porque o que se vê nas duas (prolongadas) horas seguintes é um filme com um roteiro esquemático, personagens um tanto rasos e situações que precisavam ser mais elaboradas. A sorte da diretora Bruni Tedeschi é que ela se cerca de um elenco competente e ela também o é como atriz. Nem é o caso de que seja uma diretora ruim, porém seus filmes nunca conseguem levantar um voo mais alto.
Como em suas outras ficções – Atrizes e Um castelo na Itália –, há algo de bastante autobiográfico. O centro é Anna, roteirista, diretora e atriz que leva um fora do namorado, Luca (Riccardo Scamarcio, fazendo as vezes de Louis Garrel, ex-marido da diretora), quando estão prestes a sair de férias com a filha adotiva, Célia (Oumy Bruni Garrel, filha adotada por Bruni Tedeschi com Garrel). As duas acabam indo para a casa de veraneio da família, onde encontram a mãe da protagonista, Louisa (Marisa Borini, mãe real da diretora), a irmã dela, Elena (Valeria Golino) e o marido desta, o empresário Jean (Pierre Arditi).
Bruni Tedeschi joga com a ficção dos fatos, colocando situações reais de maneiras ficcionalizadas ou nem tanto. Mais tarde, junta-se à família a amiga e roteirista Nathalie (Noémie Lvovsky, corroteirista do longa). A diretora não tem o menor pudor de rir de si mesma e, em alguns momentos, de sua família e conhecidos. Mas é um riso exaltador, quase nada crítico.
Muitas das cenas passam-se à volta de mesas, onde se come e bebe muito e muito bem, ou na piscina. Problemas do passado vêm à tona, como um abuso sexual, um aborto, rivalidades e afins. No presente, um ossobuco que parecia ótimo cai no chão, suja as barras de uma calça, um amigo da família desaparece quando sai para nadar e Anna sofre com a separação. Os elementos são um esforço de trazer nuances e talvez alguma energia, mas as cenas nunca parecem se conectar, os personagens nunca vão além daquela existência reclamona. O que sobra é o belo cenário e a bela cena final quando Bruni Tedeschi escancara a metaficção de seu cinema.