Não é difícil imaginar O Pintassilgo como uma daquelas adaptações literárias de romances de pedigree – no caso, o livro homônimo de Donna Tartt, ganhador do Pulitzer em 2014 para ficção – que atraem elenco de prestígio, diretor de renome e que visam ganhar um punhado de indicações a prêmios. Mas, para cada O Iluminado existe uma Torre Negra, e, no caso, aqui, estamos mais no território do segundo. Não é que o filme de John Crowley (responsável pela excelente adaptação de Brooklyn, de 2015) seja terrível como dizem as notícias que vêm de fora, mas o resultado é melhor em alguns momentos do que na soma de suas partes.
Um filme a partir de um livro deve, obviamente, ser julgado pelos seus próprios méritos cinematográficos. Na verdade, o que diretor e roteirista devem fazer é tomar posse da obra, de seu clima, jogar o original fora e fazer algo completamente diferente, mas, ao mesmo tempo, que não existiria sem o livro – como fez Coppola com Apocalypse Now, a partir de O Coração das Trevas, do polonês Joseph Conrad. Mas Crowley e o roteirista Peter Straughan são tão dolorosamente fieis – e reverentes – ao romance de Tartt que é impossível separar filme de literatura – até mesmo para quem desconhece o livro, porque o longa vem tão embriagado de sua gênese literária que chega a dar uma ideia de como tudo está no papel.
Com mais de 800 páginas, O Pintassilgo é um romance de formação, um Bildungsroman à la Dickens, num momento do nosso presente. A sua questão central liga arte e terrorismo na trajetória de amadurecimento de seu protagonista, Theo, que perde sua mãe num ataque ao museu Metropolitan. Num momento de confusão e desespero, em meio às cinzas, ele resgata a pintura que dá nome ao livro e ao filme, do holandês Carel Fabritius, de 1654, esconde-a em sua mochila e a leva consigo. A vida do garoto desaba nesse momento. O pai ausente mora no Texas, e ele não tem outros parentes. Ficará hospedado na casa da família de um amiguinho da escola.
Nesse momento no filme, Theo é interpretado pelo excelente Oakes Fegley, um garoto cujo semblante transmite toda a gravidade do personagem, em seu luto profundo, seu dilema moral – ele não quer devolver o quadro, que ninguém sabe que está com ele, porque é uma espécie de recordação de sua mãe. Hospedado na casa dos Barbour, uma família podre de rica, ele logo se torna uma espécie de filho para a matriarca (Nicole Kidman), e tudo vai relativamente bem até que o pai (Luke Wilson) aparece para o levar para sua casa no meio do deserto do Texas.
O filme se segura até esse ponto, depois a narrativa – com suas idas e vindas no tempo – se torna apressada, episódica, sem deixar que o protagonista amadureça com a devida complexidade que o personagem requer. E, para um filme sobre o processo de um menino se transformando em adulto, este é um grande problema. Os acontecimentos se acumulam, os fatos parecem estar na trama apenas para passar o tempo. Na medida em que a narrativa avança, O Pintassilgo se torna um filme sem vida, inócuo, por mais que a fotografia do veterano Roger Deakins seja caprichada, e com um tom que faz tudo parecer um sonho banhado em caramelo.
Ansel Elgort assume o papel do protagonista adulto, quando trabalha com um restaurador (Jeffrey Wright), de quem ficou amigo depois da morte da mãe. Ele tem uma paixão perene, Pippa (Ashleigh Cummings), que perdeu o tio que a criava no mesmo ataque. Uma conversa franca entre eles, quando a garota explica porque jamais poderiam ficar juntos, é um dos belos momentos do filme que destoa de todo o resto.
A seriedade com que Crowley e Straughan tomam o original é um peso tremendo. Tudo parece envolvido numa aura de Grande Arte sobre Grandes Assuntos da Existência. O pouco que funcionava no começo deixa de funcionar com o tempo. Free porn games I download on https://pornova.org A very convenient and understandable site with many porn games, including various hentai games Os 150 minutos são de mais e de menos, tornando-o cansativo, e, ainda assim, incapaz de dar conta das intenções da dupla. Numa época em que o audiovisual tem privilegiado tanto narrativas mais longas, é de se pensar se uma série não seria mais justa com o livro de Tartt. Talvez assim as pessoas entenderiam porque O Pintassilgo é um livro tão querido.