A clássica história de João e Maria ganha uma releitura com aspirações feministas nas mãos do diretor Oz Perkins, que, por isso, inverte a ordem no título, transformando Maria e João – O Conto das Bruxas na história de amadurecimento e empoderamento de uma garota. É uma premissa que cobra um preço alto que nem todos irão comprar, mas também é inegável o esmero visual do longa – como é comum nas obras de Perkins –, que tem fotografia assinada pelo mexicano Galo Olivares, que colaborou na fotografia de Roma.
Dos irmãos Grimm, o longa mantém a dupla de irmã e irmão – interpretados por Sophia Lillis (It) e o estreante Sammy Leakey, que, se perdem na floresta e, famintos, encontram uma casa de doces no meio da floresta. Colocando Maria um pouco mais velha que o irmão – as idades são 16 e 8, respectivamente –, Perkins dá a ela protagonismo e poder de ação, deixando o pequeno João um tanto de lado nesse processo da menina se transformando em mulher.
A trama se passa em tempos sombrios e de crise. Maria é entrevistada para trabalhar como empregada num castelo, quando o patrão em potencial pergunta sobre sua virgindade. A garota não se curva às investidas e não consegue o emprego, obrigando sua mãe, tomada pela loucura, a colocar as crianças para fora de casa, saindo pela floresta em busca de um convento que as protegerá. No caminho, encontram criaturas parecidas com zumbis e são salvas por um caçador (Charles Babalola). Isso dura pouco, e logo estão presas a uma casa repleta comidas e guloseimas.
É aí que o filme começa. O roteiro assinado por Rob Hayes vai e volta no tempo, permitindo contar não apenas a história de Maria como da bruxa Holda (Alice Krige, excelente no papel), a dona da casa, que tem planos sinistros para a dupla de irmãos. O que vem depois é mais ou menos conhecido, mas as opções do diretor e do roteiristas clamam por alguns ajustes à trama famosa para adequar às sensibilidades do presente.
Apesar do apelo de conto de fadas infantil, o clima soturno de Maria e João..., evidentemente, torna-o um filme para adolescentes e adultos, possivelmente, para uma faixa bem específica. Este não é um terror convencional, não é de dar sustos, mais interessado em criar clima. Repleto de silêncios, pode desagradar aos mais afoitos.