É raridade haver uma comédia ambientada na tensa fronteira entre Israel e o território palestino, por isso mesmo, cresce o interesse em Telaviv em Chamas, de Sameh Zoabi, que desloca para a trama de uma novela de televisão o território das disputas até hoje irresolvidas entre palestinos e israelenses.
O palestino Salam (Kais Nashif) é contratado por seu tio, Bassam (Nadim Sawalha), produtor de uma popular novela de televisão de uma emissora em Jerusalém, para ser o revisor do sotaque e das falas em hebraico, língua que ele domina. No enredo, ambientado na época da Guerra dos Seis Dias, há um triângulo amoroso entre uma espiã, Tala (Lubna Azabal), que se insinua para um general israelense, Yehuda (Yousef Sweid), a fim de arrancar-lhe segredos que irá contar ao seu amante palestino, Marwam (Ashraf Farah).
Morador em Ramallah, capital administrativa da Cisjordânia, Salam tem que cruzar diariamente a fronteira, rumo a Jerusalém. Um incidente no checkpoint o coloca em contato com seu comandante, o capitão Assi (Yaniv Biton) - cuja mulher é fã ardorosa da novela, que faz sucesso dos dois lados do muro que divide Israel e os territórios palestinos.
Por uma série de acidentes, Salam acaba promovido a roteirista da novela, mas também vira alvo de um verdadeiro fogo cruzado. De um lado, o capitão israelense o pressiona para aliviar a carga negativa do personagem Yehuda, tornando-se uma espécie de ghostwriter da novela - e Salam não pode dar-se ao luxo de contrariá-lo, já que o capitão tem o poder de impedir sua passagem na fronteira, privando-o de seu ganha-pão. Do outro, o tio-produtor e o público palestino querem um desfecho heroico e vingador para seu povo, historicamente oprimido pelos israelenses.
Salam mostra jogo de cintura suficiente para sobreviver a esta disputa de forças aparentemente inconciliáveis e até acha um tempinho para tentar reatar o romance com Miriam (Maïsa Abd Elhadi). Mas a tensão aumenta na medida em que a novela caminha para seu fim e Salam terá que escrever um desfecho que não deixe insatisfeito nenhum dos dois lados. Tarefa diplomática de alta ambição e que o filme encaminha com a dose necessária de irreverência.